domingo, 28 de janeiro de 2018

Escolha da alegria na vida

Passava diante de um bar, na avenida Atlântica, em uma cidade praiana, quando, na porta, um jovem segurava uma garrafa de cerveja e dizia em alto tom de voz, no ritmo dos cantores das escolas de samba do Rio de Janeiro, para o grupo de outros jovens que ao seu lado estavam:
- Oi gente! Olha ai a cervejinha! Isso é o que vale na vida!
E outro companheiro respondia, também em alta voz, na melodia de uma das músicas consagradas por Roberto Carlos:
- E que tudo o mais vá para o inferno!
Claro que aquilo pode ter sido um episódio de momento de euforia, porém pode ser, também, a filosofia de vida de muitas pessoas que só pensam em viver o aqui e o agora, com os prazeres dos sentidos: paladar, tato, olfato e sexo.
A alegria, inegavelmente, se constitui em meta de vida para todos, contudo é necessário saber a qualidade dessa alegria.
Há alegrias que são momentâneas e produzem, logo adiante, sofrimento mais ou menos intenso.
É essa a alegria proporcionada pelas bebidas alcoólicas que afetam o funcionamento normal do órgão maravilhoso, o cérebro humano.
Além desse comprometimento da parte física, afeta, outrossim, o comportamento.
Conforme a dose de álcool no corpo, a pessoa diminui os seus reflexos.
Quantos acidentes, ferimentos e mortes causadas por motoristas que ingeriram bebidas alcoólicas.
Aqueles que se tornam dependentes do álcool alteram o seu comportamento na vida comum: no trabalho, na família, que, muitas vezes, é destruída em virtude dessa anomalia, pois podem tornar-se agressivos; perdem o senso de responsabilidade no emprego e no convívio social.
Pude acompanhar vários casos muito dolorosos e ver a que “fundo do poço” pode chegar o alcoolista. Relatarei um.
O do médico, em pequena cidade do interior do Estado de São Paulo.
Médico brilhante e competente quando chegou na cidade, começou a frequentar roda de amigos, que ao fim da tarde iam bebericar em um barzinho.
Ele, embora não soubesse, tinha a doença da dependência ao álcool.
O aumento das doses foi a sequência do aparente inofensivo encontro para o “hapy hour” com os amigos.
Evidente que os efeitos foram se fazendo em seu organismo e deteriorando a sua vida familiar e profissional.
Após várias tentativas que fizera, sem sucesso, para deixar o álcool, e pela mudança em seu comportamento com a esposa e filhos, esta decidiu pelo fim do casamento, retornando, com os filhos, para a cidade onde residiam seus pais.
Ele foi discretamente dispensado do trabalho no hospital e à medida que as pessoas tomavam conhecimento do seu estado físico e mental perdia a clientela em seu consultório.
Na última vez que o vi, atravessei a bela praça, de árvores frondosas e pássaros chilreando, ele estava sentado em uma mesinha, logo a porta do bar.
Levantou-se, com grande esforço, o corpo tremia, face macerada, olhar que nada fixava, balançava de um lado para o outro e saiu arrastando os pés pela calçada.
Passados poucos dias, numa rodinha de amigos, tomando café, um deles deu a noticia:
O doutor fulano morreu ontem, parece que de cirrose hepática e outras complicações.
“Ao sucesso!” Diz a propaganda, com belas moças seminuas e moços sarados, com cervejas e copos na mão. Hipocritamente, após mostrar os belos corpos femininos e masculinos (com atores que na maioria, não bebem), é dita a frase em volume bem mais baixo: “beba com moderação”. Quem tem a doença do alcoolismo, e muitos a têm, não consegue beber com moderação!
Que o diga o admirável gênio do futebol e cidadão consciente que foi o doutor Sócrates.
É a terrível força do capital buscando, a qualquer preço, o lucro.
Segundo o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, na Questão nº 923, a felicidade tem que ser material, mas também, espiritual para ser duradoura.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 24/02/2012, no Jornal Correio de Lins

domingo, 21 de janeiro de 2018

A veste no guarda-roupa

As cenas mais fortes dos filmes de horror, aquelas “de arrepiar”, mostram, geralmente, urnas funerárias e cadáveres.
Os cineastas que exploram o medo mórbido e atávico da criatura humana em relação à morte, para atender os que cultivam o insólito prazer de levar sustos, ver-se-ão na contingência de escolher outros temas, à medida que compreendermos que o caixão fúnebre é apenas uma caixa de madeira forrada de pano e que o cadáver nada mais é que a vestimenta carnal de alguém que, após o estágio terrestre, regressou ao mundo de origem − o Plano Espiritual.
Seria ridículo sentir arrepios ao contemplar um guarda-roupa ou, dentro dele, o traje de um familiar ausente.
No entanto, é exatamente isso que ocorre com muita gente em relação à morte.
Conhecemos pessoas que, sistematicamente, recusam-se comparecer a velórios, refratárias a contatos com caixões e defuntos, mesmo quando se trate de familiares, dominadas por indefiníveis temores.
Provavelmente têm traumas relacionados com ocorrências trágicas no pretérito.
Para a grande maioria, entretanto, o problema tem origem na forma inadequada de encarar a grande transição, principalmente por um defeito de formação na idade infantil.
Lembro-me de que nos meus verdes anos, várias vezes fui levado a beijar familiares mortos, o que fazia com constrangimento, avesso ao contato de meus lábios com a face fria, descorada e rígida de alguém que eu conhecera pleno de vida, com quem convivera e que agora se quedava, inerte, solene, sombrio...
E me deixava contagiar pelas lágrimas de desespero e doridas lamentações dos menos comedidos, sedimentando em minha cabeça a ideia de que a morte é algo de terrível e apavorante, uma infeliz imagem que somente na idade adulta, com o conhecimento espírita, consegui superar.
É preciso muito cuidado com as crianças, habituando-as à concepção de que somos seres espirituais imortais, usando uma veste de carne que um dia deixaremos, assim como se abandona um traje desgastado, após determinado tempo de uso.
É dessa forma que o corpo sem vida deve ser mostrado à criança, quando se disponha a vê-lo, explicando-lhe, em imagens singelas, de acordo com seu entendimento, que o vovô, a titia, o papai ou qualquer familiar desencarnado, foi morar em outro lugar, onde terá roupa nova e bem melhor.
Igualmente importante é o exemplo de serenidade e equilíbrio dos adultos, oferecendo aos pequenos uma visão mais adequada da morte, situando-a como a separação transitória de alguém que não morreu.
Apenas partiu.

Richard Simonetti

e-mail: richardsimonetti@uol.com.br

domingo, 14 de janeiro de 2018

O sinal vermelho

“Reflexão”
Naquela noite o cidadão viu parte da sua casa ir pelos ares em tremenda explosão inesperada.  Sendo atingido saiu cambaleante descendo os degraus da pequena escadaria com as roupas em chamas a queimar-lhe o corpo em estado desesperador. Atirou-se na grama do jardim rolando de um lado para outro na esperança de se livrar das labaredas que lambiam-lhe a pele sensível sem piedade causando-lhe dores insuportáveis. Logo apareceram os visinhos em seu socorro abafando as chamas de maneira desordenada, dada as circunstâncias do urgente atendimento. Assim, depois de debelado o fogo devastador ele jazia imóvel envolvido por sofrimentos extremos até a chegada da ambulância que o conduzira ao hospital em estado de inconsciência.
Recebera tratamento adequado por vários dias e aos poucos foi se recuperando até que conseguiu recobrar a lucidez.
Perguntou pelos dois filhinhos e pela esposa, e ficou feliz em saber que estavam bem. Lembrou-se então de como tudo aconteceu: Chegara em casa já altas horas da noite como era seu costume fazer...e como sempre embriagado, e como a esposa e filhos já dormiam foi até a cozinha em busca de algum alimento, ou de seu jantar que sempre estava reservado. Pegou a panela e colocou-a no fogão para aquecer, abriu o gás, e  não encontrando o fósforo passou a procurá-lo pela cozinha, nas gavetas, na mesa, e depois de algum tempo tendo-o encontrado riscou um palito e a explosão levara tudo pelos ares, porque ele esquecera de fechar o gás enquanto procurava o fósforo.
Foi esta lembrança que, no leito do hospital, o levou a chorar copiosamente.
O sinal de alerta já havia se ligado para ele há muito tempo,através de conselhos aos quais nunca dera atenção. Agora, o “sinal vermelho” que significa “pare”, foi outra vez acionado.
Ele pôde perceber então, que havia ultrapassado os limites de segurança dentro de seu próprio lar, e que o desastre poderia ter sido maior, se atingisse sua maior fortuna, a família, e que por uma imprudência sua, poderia ter sofrido seqüelas irreparáveis.
Envolveu a família toda em um único abraço, demorado e acompanhado de muitos soluços, e comovido, agradeceu a Deus por ter poupado suas jóias mais preciosas, que são seus entes queridos.
Só então admitiu sofrer de uma doença chamada “ALCOOLISMO”.
As diversas situações da vida nos colocam sempre em alerta para que possamos nos conduzir de maneira que nos permita termos uma vida física e mental saudável e equilibrada que nos ajude a encontrar o bem estar que almejamos. È assim, por exemplo, quando nos chega informações sobre a prevenção de doenças,como: Câncer de mama, de próstata, e tantas outras; A necessidade de alimentação adequada para diabéticos e outras; Os excessos na alimentação em geral; Os cuidados necessários com a pressão arterial; Com o colesterol; A inconveniência de dirigir alcoolizado; E até nas rodovias, onde os motoristas têm toda uma sinalização preparada para lhe dar uma segurança maior, trechos do caminho em que é preciso um controle adequado da velocidade, e tantos outros detalhes; Mas a realidade é que muitos de nós continuam infringindo estes regulamentos e não dando atenção devida a alertas tão importantes, confiando mais em si mesmos e deixando de prever acontecimentos desastrosos a si próprios e a familiares.
As lições do Evangelho nos ensinam que devemos cuidar do corpo e da alma; E o que estamos fazendo por nós mesmos em relação a estes dois itens?
PENSE NISSO!

Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

domingo, 7 de janeiro de 2018

Silogismos

Silogismo é uma interessante forma de raciocínio. Divide-se em três partes que se completam: premissa maior, premissa menor e conclusão. Exemplo:
A justiça de Deus nunca falta na Terra – premissa maior.
Vivemos na Terra – premissa menor.
Não há injustiça em nenhuma situação humana – conclusão.
Resultado duvidoso para muita gente. Como considerar justo um planeta onde convivem o gênio e o obtuso, o atleta e o paralítico, o sábio e o ignorante, o milionário e o miserável, o santo e o facínora?
Essa dúvida envolve um equívoco na apreciação das conjunturas humanas.
Lembra a história daquele pregador que foi advertido por seus superiores, porquanto alguém o acusara de bater em sua esposa, algo inconcebível num religioso. Ele se surpreendeu.
– Quem me denunciou?
–  Um vizinho.
– Disse como foi?
– Ouviu sua esposa gritar, desesperada. Olhou por cima do muro e viu você correndo atrás dela, a bater-lhe.
“Meu Deus! – pensou o pregador – Como pode esse homem reportar-se a algo que não aconteceu? Está mentindo ou se enganou.”
Não havia justificativa para a primeira hipótese. O vizinho não era má pessoa. Não havia inimizade entre eles. Por que haveria de querer prejudicá-lo? Certamente houvera um engano.
– Quando aconteceu?
– Há uma semana.
O pastor sorriu. Lembrara-se. Naquele dia estivera com a esposa no amplo jardim, nos fundos da casa. Ela cuidava das flores quando foi atacada por furiosas abelhas. Aterrorizada, correu, gritando de dor. Ele prontamente foi ao seu encalço, a brandir sobre ela um saco de estopa, com o propósito de afugentar os insetos. O vizinho viu de longe e confundiu um ato de socorro com agressão.
É o que acontece com aqueles que apreciam a existência humana à distância das realidades espirituais, visão comprometida por brumas de ignorância.
Sem noção dos porquês, situam-se perplexos, supondo que Deus esteja a açoitar seus filhos, quando apenas os ajuda a eliminar ameaçadores ferrões gerados no viveiro de suas inferioridades.
Qual infalível instrumento ótico para a apreciação dos horizontes existenciais, a doutrina da reencarnação evidencia que as situações presentes guardam relação com o que fizemos ou deixamos de fazer no pretérito, impondo-se como preciosos instrumentos de regeneração.
Ainda que não tenhamos lembrança das causas passadas, geradoras dos males presentes, estes imprimem, na intimidade de nossa consciência, registros que funcionam como “vacinas” contra reincidências.
Detalhe importante: em qualquer situação, por mais castradora se nos afigure, sempre há o que fazer para um futuro melhor. Nesse propósito, se cultivarmos um pouquinho de amor, pondo nossa alma nas iniciativas mais nobres, realizaremos prodígios.
Mãos e pés pregados na cruz, aparentemente não havia nada mais que Jesus pudesse fazer... Ainda assim, confortou um condenado, providenciou amparo para sua mãe e intercedeu em beneficio da multidão desvairada, pedindo a Deus perdoasse a todos, porquanto não sabiam o que estavam fazendo.
O mestre destacava uma vez mais, mesmo em circunstâncias tão adversas, o silogismo que lhe marcou o apostolado:
Premissa maior: Deus é Amor.
Premissa menor: Fomos criados à imagem e semelhança de Deus.
Conclusão: Somente o amor nos realiza como Seus filhos.

Richard Simonetti

e-mail: richardsimonetti@uol.com.br