domingo, 27 de janeiro de 2019

Soldadinhos de Chuva


Chovia torrencialmente. Da varanda da minha casa eu observava a chuva que caia. Senti-me criança. Os pingos ao caírem no asfalto, pareciam se transformar em imaginários soldadinhos de chuva marchando com muita energia rumo ás guias e sarjetas, numa seqüência incrível de movimentos.
A criança que existe em mim os acompanhava atentamente com o olhar até se unirem a um batalhão compacto, se transformando em enxurrada a deslizarem pelas galerias em direção ao grande rio.
Nesse longo trajeto de obediência ao rumo traçado pelos declives do solo, muitas coisas com certeza aconteceram: atropelaram indigentes que se encontravam na via pública, inundaram casas e barracos à beira do caminho, derrubaram muros, causaram erosão aos terrenos desprotegidos.
Por outro lado, fertilizaram árvores e jardins floridos, revitalizaram plantações rurais, aumentaram o espaço dedicado à sobrevivência dos animais aquáticos, além de interferirem nas condições climáticas, causando benefícios a muitos seres viventes. E assim, depois de cumpridas suas tarefas retornariam ao lugar de onde vieram... às nuvens, através do vapor provocado pela alta temperatura solar.
Assim é a natureza e a nossa vida, que é parte integrante dela. Chegamos aqui no planeta terra com muitas aspirações e incertezas, com tarefas específicas em meio ao campo de batalha da vida, que poderá ser a nossa redenção, e com um potencial de energia suficiente para superarmos as dificuldades encontradas na luta do cotidiano, porque o fardo nunca será superior às nossas forças... Assim disse o Mestre.
Em nosso tempo de caminhada pela vida, muitas vezes atropelamos nossos irmãos de estrada com nosso orgulho e egoísmo, tantas outras vezes nos desequilibramos, caímos e nos levantamos, porque somos ainda inexperientes recrutas no quartel da eternidade.
Precisamos nos esforçar para deixarmos também as margens do caminho, muitas ações e ensinamentos bons, exemplos morais, de perseverança e amor, que com certeza irão se transformar em alimentos da alma a suprir os corações de muitos que compartilham nossa jornada.
A Doutrina Espírita nos lembra que o auto-esclarecimento, a reforma ìntima, que nos leva a revermos e melhorarmos nosso comportamento moral, na área das emoções e dos instintos, e as experiências vividas, constituem a bússola que irá nos conduzir a um rio de felicidade e paz.
Algum dia teremos que retornar à pátria eterna, lugar de onde viemos, e que seja com um saldo positivo a favor de nossas boas ações, porque podemos até nos considerarmos soldadinhos de Deus a caminho da luz.

Nelson Nascimento
Lins - SP

domingo, 20 de janeiro de 2019

O irresistível apelo do coração


Foi amor à primeira vista, dessas coisas que só o Espiritismo explica.
Tão logo se conheceram, Lauro e Cássia sentiram irresistível encantamento. Não era do tipo paixão, na ardência do desejo que se esvai com a satisfação dos sentidos, mas aquele amor autêntico, que transcende os limites da atração física para fixar-se, imortal, na intimidade do coração.
Logo começaram a namorar, experiência sublime de almas afins que se encontram.
À luz da Doutrina Espírita, diríamos, com maior exatidão, almas afins que se reencontram. Somente uma convivência milenar nos domínios do afeto poderia justificar tão terna ligação.
Havia um problema.
Ela era pobre e ele rico, família abastada, tradicional, ciosa da ilusória nobreza sustentada pelo dinheiro.
Sua mãe, Matilde, viúva de filho único, ao saber do namoro passou a pressionar Lauro.
– Essa moça não serve para você – dizia impositiva.
– Mas, mamãe, Cássia é a mulher de minha vida. Eu a amo com todas as forças de meu coração.
– Tolice! De outras vezes você esteve apaixonado e logo passou.
– Desta vez é diferente. É amor mesmo, mamãe. Pretendo casar-me com ela!
– Não admito tal loucura!
– A senhora não pode impedir. Sou maior de idade, tenho meus direitos.
– Pois bem, se é assim, escolha: ou fica comigo, tendo as mordomias de sempre, ou com essa mulher, e não terá um tostão de meus haveres.
– É o que a senhora quer?
– Sim.
– Então saiba que prefiro ficar com Cássia.
Pouco depois Lauro e Cássia casaram-se, cerimônia simples, poucas pessoas, amigos íntimos, familiares da noiva… mãe do noivo ausente.
Matilde viajara para não participar daquela união que tanto a contrariava. Via na jovem que conquistara o coração de seu filho uma aventureira disposta a dar o golpe do baú.
Nem mesmo quisera conhecê-la.
Lauro e Cássia instalaram-se em cidade distante, existência feliz, logo abençoada pelo nascimento de Silvinha, linda menina.
Quanto a Matilde, seguiu solitária, dominada pela nostalgia, saudade imensa do filho que situara por ingrato, mas irredutível em sua orgulhosa decisão de manter-se afastada do casal.
Nem mesmo quando soube do nascimento da neta dispôs-se a superar a animosidade gratuita pela nora, sempre a responsabilizá-la pelo afastamento do filho.
Sete anos passaram céleres, sem que Matilde se dispusesse a modificar sua postura intransigente.
Então recebeu uma carta, letrinha infantil:
– Querida vovó, estou escrevendo para dizer que esperamos sua visita. Mamãe diz que você é uma pessoa boa, que ama a todos nós, mas é muito ocupada. Por isso peço sempre a Jesus que lhe dê um tempinho para nos ver. Amamos você.
Espesso véu de lágrimas cobriu os olhos de Matilde, que mal conseguiu ler as últimas palavras.
– Muitos beijos, vovó! Não esqueça: quero ver você! Com carinho, Silvinha.
Comportas abertas pela simplicidade amorosa de uma criança, Matilde derreteu o orgulho em lágrimas ardentes, reconhecendo seu engano em relação à nora.
Uma jovem repudiada pela sogra que cultivava na filha o carinho pela avó não seria uma simples nora, mas uma filha muito querida que ela obstinadamente rejeitara.
Dias depois, Cássia, Lauro e Silvinha realizavam o Evangelho no Lar, quando bateram à porta.
Silvinha atendeu de pronto e deparou-se com sorridente senhora, que trazia vários embrulhos de presentes.
– Oi, Silvinha, estou aqui, atendendo ao seu pedido.
– Vovó?!
– Sim, minha querida!
Um longo e forte abraço selou o início de uma intensa ligação entre neta e avó, ante o olhar surpreso e emocionado do casal.
Após abraçar o filho, Matilde abraçou mais fortemente a nora, derramando-se em lágrimas.
– Deus a abençoe, minha filha, por relevar as impertinências desta velha e pela orientação que deu à minha neta.

***
O orgulho costuma erguer pesadas barreiras que impedem um relacionamento familiar feliz, mas nem tudo estará perdido se não for tão grande que mantenha selada a fonte das lágrimas ante os apelos do coração.

***
Richard Simonetti
e-mail: richardsimonetti@uol.com.br

domingo, 6 de janeiro de 2019

A Preservação do Meio Ambiente


“O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a Natureza antes de se dominarem”. Albert Schweitzer
O dia Mundial do Ambiente é celebrado em 05 de junho e foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas pela Resolução XXVII, de 15 de dezembro de 1972.
Vivemos em um mundo maravilhoso que se chama planeta Terra.
É a nossa casa planetária onde milhares de seres vivem e desenvolvem as suas potencialidades. Todos os seres viventes, inclusive o ser humano.
No entanto, é preciso saber usar os bens que ela nos proporciona.
Allan Kardec indagou aos Mentores Espirituais: “O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?”. E eles responderam:
- Esse direito é consequente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo. (1)
Sobre isso já fizemos nossa reflexão (2):
“Todos os seres vivos possuem o instinto de conservação, qualquer que seja o grau de inteligência, pois a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Por isso a Terra produz de modo a proporcionar o necessário aos que habitam, visto que só o necessário é útil. O supérfluo nunca o é.
O homem ainda não aprendeu a retirar do solo apenas o que lhe é necessário. Sua ganância, traduzida pelo desejo do lucro fácil, leva-o a dilapidar o patrimônio do qual o Senhor da Vida permitiu-lhe o usufruto. Destrói sem maiores preocupações florestas imensas, polui as fontes e os rios, contamina os mares. Isso em nome do progresso que, na verdade, mascara a sanha egoística de pessoas e grupos que colocam os próprios interesses acima do bem estar da própria humanidade”.
No entanto, já observando as graves consequências do desrespeito à Natureza, o perigo de se romper a cadeia ecológica: mineral-vegetal-animal, providências já estão sendo tomadas pelos Órgãos Governamentais, no âmbito local, regional e internacional.
Nesse sentido será realizada a Conferência Rio + 20, na cidade do Rio de Janeiro no mês de junho de 2012.
A cidade será então sede da conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável.
Serão debatidos temas sobre a contribuição da “economia verde” para o desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza, com foco sobre a questão da estrutura da governança internacional na área do desenvolvimento sustentável.
Sobre isso já pudemos também meditar:
“Ao lado da abundância, no supérfluo, falta o necessário à massa humana dos marginalizados na sociedade. Nela encontramos a carência, a doença, a falta de habitação, a escassez de vestuário, a ausência de instrução e o trabalho sub-humano. Essa massa contrasta com a minoria que detém o poder econômico. Tal é a situação em muitas partes do planeta, no chamado Terceiro Mundo.
Também o Brasil ainda apresenta esse aspecto social, na periferia dos grandes centros urbanos e nas regiões socioeconômicas menos desenvolvidas.
Embora a civilização amplie as necessidades, ela também aumenta as fontes de trabalho e os meios de viver. A Ciência e a Tecnologia vêm aumentando progressivamente a produção dos bens e à medida que se aplique a justiça social a ninguém faltará o necessário.
A Natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização social, nem pelos efeitos da ambição e do egoísmo. (2)
Assim, muito importante que na Conferência Rio + 20 os temas do desenvolvimento sustentável sejam devidamente debatidos, mas sobretudo que eles sejam aplicados, pelos cidadãos e pelos órgãos governamentais em todos os seus níveis.
“O uso dos bens da terra é um direito de todos”. (1)


Bibliografia:
(1) – O Livro dos Espíritos, Allan Kardec – Ed. FEB;

(2) – O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade, Paiva, Aylton, Ed. Casa dos Espíritas, Lins.


Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 08/06/2012, no Jornal Correio de Lins