domingo, 27 de agosto de 2017

Vitória amarga

Richard Simonetti
Pirro (319-272 a.C.), foi um general grego, autor de livros sobre a arte da guerra. Guerreiro indômito e hábil, seria lembrado não pelos seus feitos no campo de batalha e pendores literários, mas, singularmente, por simples comentário que deu origem à expressão famosa: Vitória de Pirro.
Em 281 a.C. combateu os romanos, em defesa de Taranto, uma colônia grega no sul da Itália. Logrou sucesso. Contudo, tantas foram as baixas em suas tropas que, recebendo felicitações pelo notável feito de derrotar um exército do grande império, comentou amargamente: – Mais uma vitória como essa e estaremos perdidos.
A vitória mais se assemelhava a uma derrota. A frase de Pirro é aplicada para definir certas conquistas que impõem tantos sacrifícios e desgastes que, literalmente, não compensam.
Há realizações que trazem euforia, situando-se como a concretização de nossos sonhos e ideais, mas o tempo, senhor da verdade, demonstra que cometemos grave erro de avaliação.
O audacioso empresário, que se compromete com a corrupção para enriquecer…
O funcionário ambicioso, que usa de intriga e bajulação para superar hierarquicamente seus colegas…
A astuciosa jovem, que se vale de sua beleza para seduzir o homem rico…
O hábil político, que ilude o povo para ganhar a eleição…
O filho rebelde, que deixa o lar para livrar-se da tutela paterna…
O ditador truculento, que esmaga qualquer oposição para sustentar-se no poder…
O traficante inescrupuloso, que semeia o vício para vender seu produto…
Todos exultam com seu sucesso, sem perceber que pagarão um preço muito alto, bem de acordo com a expressão evangélica: De que vale conquistar o mundo e perder a alma? (Marcos, 8:36).
Jesus reporta-se a efêmeras vitórias humanas que são derrotas do Espírito imortal, impondo penosas reparações.
Por outro lado, há situações que se afiguram lamentáveis derrotas. Constatamos depois que foram abençoadas oportunidades de resgate, renovação e conquistas espirituais:
A doença grave que depura a alma…
A limitação física que impõe salutares disciplinas.…
A desilusão amorosa que desfaz a fantasia…
A morte do ente querido que desperta a religiosidade…
A dificuldade financeira que estimula a iniciativa…
Não raro faz-se noite escura em nossos caminhos para que nasça novo dia. Se não desanimarmos diante das sombras, iremos ao encontro de luminoso alvorecer.
A própria morte de Jesus, aparentemente derrotado pela maldade humana, era na verdade, o coroamento da missão que começara na manjedoura e atingia o clímax na cruz. Os dois episódios se completam, compondo a bandeira do Cristianismo para a construção do Reino de Deus.
Humildade, na manjedoura.
Sacrifício, na cruz.
E mais: Do alto da cruz, Jesus fincava os marcos de uma nova atitude diante da maldade humana, rogando a Deus: – Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (Lucas, 23:34).
Aqueles que o perseguiam e apupavam não tinham ideia de quanto lhes custaria em dores expiatórias aquele aparente triunfo.
Eram dignos de compaixão.
Espiritualmente estavam tão derrotados quanto Pirro em sua frustrante vitória.

Richard Simonetti

domingo, 20 de agosto de 2017

Daqui a cem anos

Reflexão
Durante minha caminhada costumeira, estando mais descontraído e um pouco desligado das atribuições da rotina diária, dando asas aos meus pensamentos, passei a analisar a vida a partir do seguinte aspecto:
- Já que somos criaturas cujo espírito é imortal, onde estaremos daqui a cem anos? Que lembranças teremos dos tempos de agora? Que terá sido dos amigos, familiares e parentes que compartilham nosso dia-a-dia de hoje? Estarão conosco? E aqueles que hoje consideramos “a pedra em nosso sapato”, onde estarão?
Não temos dúvidas de que o ensinamento que diz que tudo que se planta, se colhe, é uma realidade, e também que os bens materiais que conseguimos acumular (imóveis, jóias, dinheiro, etc.) têm importância significativa, mas apenas para o nosso usufruto aqui no planeta; e que a riqueza que realmente possuímos e que levamos conosco para o novo plano na eternidade, são as qualidades que temos, boas ou más.
Assim sendo, nos convém que aperfeiçoemos as boas qualidades, os valores morais como a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a honestidade, o amor ao próximo, etc. e também que comecemos a entender essa necessidade do desapego aos bens materiais, que não significa jogar tudo pelos ares coisas que conseguimos com sacrifícios, mas sim, que são coisas que temos como um empréstimo do criador e que deverão ficar para o usufruto das novas gerações, que não devemos levar conosco preocupações em relação ao destino desses bens terrenos que deixamos. Todos estes valores constituem a condição propulsora da elevação da alma.
Aprendemos também que, na hora da prestação de contas, que irá apurar nosso saldo positivo ou negativo diante da vida, não nos será perguntado se aqui na terra fomos “diplomatas ou operários”, se fomos ricos ou pobres, porque todos nós temos provações específicas nas diversas áreas de atividades, que fazem parte da jornada evolutiva de cada um... Mas, sim, nos será perguntado o que fizemos de bom, no meio em que fomos colocados para viver.
Se assim for, estaremos bem se tivermos aplicado nosso tempo no trabalho honesto, em obras e ações positivas, se nos melhoramos moralmente... E teremos em nossa companhia no novo plano de vida as pessoas que têm afinidade conosco, ou seja, aqueles imbuídos das mesmas virtudes, quer sejam parentes, amigos ou desconhecidos, porque somos espíritos individualizados.
Caso contrário, estaremos em meio a pessoas que comungam com nossas idéias levianas, com nosso instinto agressivo, com nosso orgulho, egoísmo, inveja, etc., porque pela lógica, anjos e demônios não devem compartilhar o mesmo ambiente.
Assim é que a doutrina espírita nos esclarece, que vamos poder estar em boa ou má condição, de acordo com a bagagem que levarmos na travessia para a vida maior.
Conclui-se então que “daqui a cem anos”, estaremos no lugar que reservarmos para nós hoje. Portanto, agora é a hora de analisarmos nosso comportamento, nossos atos, e prepararmos nosso lugar para o futuro.
Pense nisso!

Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

domingo, 13 de agosto de 2017

Ingredientes do êxito

Aylton Paiva
Na atualidade fala-se e escreve-se muito sobre o êxito.
Grande parte dessas considerações preocupam-se apenas com o sucesso da vida material. Para isso criam-se teorias e relatos, às vezes mirabolantes.
Na religião tínhamos a teologia da fé, a teologia da libertação e, hoje, certos grupos religiosos enfatizam a teologia da prosperidade, com forte ênfase na prosperidade material. Alguns pregadores religiosos chegam a incitar o fiel a desafiar Deus para que ele, revelando o “seu poder”, atenda aos seus pedidos da benesse material.
No entanto, encontramos reflexões a respeito emitidas de forma adequada e equilibrada.
Vejamos André Luiz:
“O êxito espera por você, tanto quanto, vem exaltando quantos lhe alcançaram as diretrizes.
Largue qualquer sombra do passado ao chão do tempo, qual a árvores que lança de si as folhas mortas.
Não se detenha, diante da oportunidade de servir.
Mobilize o pensamento para criar vida nova.
Melhore os próprios conhecimentos, estudando sempre.
Saliente qualidades e esqueça defeitos.
Desenvolva os seus recursos de simpatia e evite qualquer impulso de agressão.
Se você pode ajudar, em auxílio de alguém, faça isso agora.
Enriqueça o seu vocabulário com boas palavras.
Aprendendo a escutar, você saberá compreender.
A melhor maneira de extinguir o mal será substituí-lo com o bem.
Destaque os outros e os outros destacarão você.
Viva o presente, agindo e servindo com fé e alegria, sem afligir-se pelo futuro, porque, para viver amanhã, você precisará viver hoje.
Habitue-se a sorrir.
Recorde que desalento nunca auxiliou a ninguém.
Não permita que a dificuldade lhe abra porta ao desânimo porque a dificuldade é o meio de que a vida se vale para melhorar-nos em habilitação e resistência.
Ampare-se amparando os outros.
Censura é uma fórmula das mais eficientes para complicar-se.
Abençoe a vida e todos os recursos da vida onde você estiver.
Nunca desconsidere o valor da sua dose de solidão, a fim de aproveitá-la em meditação e reajuste das próprias forças.
Observe: todo tempo é tempo de Deus para restaurar e corrigir, começar e recomeçar.” (1)
Nessas palavras o Mentor Espiritual André Luiz, acentua a importância do êxito em nossas vidas, porém traça algumas diretrizes para que esse êxito seja real, para a vida material e a vida espiritual, e não fugaz ilusão do “ter” e do “poder”, transitórios.
Primeiro precisamos ter fé em Deus, porém confiar nas próprias forças e capacidades de realização.
Não só pensar, mas agir.
Não se fixar em aspectos negativos; que estes sirvam apenas de lição e experiência.
Desenvolver as próprias potencialidades nas áreas da inteligência, do sentimento e das emoções.
Falar e agir na semeadura do bem para que o bem se faça em nossas vidas.
Viver de forma solidária e integrada com os demais membros da sociedade. Por final, alerta ele: “Abençoe a vida e todos os recursos da vida onde você estiver”.
Assim, concluímos que a construção do êxito em nossas vidas deve ser uma ação permanente e lúcida.

Bibliografia:
1 – André Luiz/F. C. Xavier, Respostas da Vida, Ed. IDEAL, págs. 25 a 27

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 06/01/2012, no Jornal Correio de Lins


domingo, 6 de agosto de 2017

A autoagressão pelo mau costume

(Ponto de Vista)
Nossas vidas estão sempre permeadas de atitudes que nem sempre são benéficas ao nosso bem estar. Algumas delas muitas vezes são tomadas mesmo conscientes de seus efeitos e reflexos prejudiciais, e tantas outras vezes por ignorância educacional.
O mau costume como sabemos é aquele procedimento habitual que seja considerado nocivo ao organismo ou contrário à virtude e ao bem comum, inconveniente ao meio social, desagradável, que nos expõe a situações danosas á saúde, ou à imoralidade. Existem maus costumes que não chegam a nos agredir fisicamente, mas que causa constrangimentos comumente considerados como falta de educação adequada.
Podemos considerar agressivo aquele mau costume que de certa forma seja prejudicial tanto ao físico quanto à alma. As agressões orgânicas (ou físicas) podem ser provocadas por: vícios diversos, alimentação imprópria e descontrolada, desregramentos que comprometa a saúde, etc. O que agride a alma dificultando a sua trajetória evolutiva são os hábitos nocivos que levamos conosco para a eternidade, tais como: o ódio, a mágoa, o ressentimento, a inveja, o orgulho, o egoísmo, a avareza, a maldade, etc. que são imperfeições que nos situam em níveis de sintonias espirituais inferiores, e que também as considero como maus costumes em virtude da constância com que algumas pessoas alimentam estes sentimentos, renovando-os diante de qualquer circunstância que lhes cause insatisfação e aborrecimento.
Um dos objetivos da doutrina espírita é a orientação do ser humano no sentido de conscientiza-lo e prepará-lo, apresentando justificativas racionais para a eliminação de imperfeições trazidas de épocas remotas em que predominavam em nós os sentimentos e emoções negativas instintivas. Com tais ensinamentos já se pode compreender o porquê das nossas necessidades de mudanças no âmbito do comportamento humano, em que o relacionamento com o semelhante se constitui na ferramenta que nos permite lapidar o nosso próprio caráter. O bem estar do espírito é primordial porque ele é o timoneiro individualizado e imortal que nos conduz através do veiculo físico ao longo da trajetória das diversas reencarnações. É preciso estar ciente de que só evoluímos espiritualmente a medida que formos eliminando as imperfeições, e substituindo-as por virtudes que são as molas propulsoras que nos levam a alcançar a purificação. Enquanto não forem superadas essas necessidades e acertadas as desavenças com os semelhantes, o ser humano estará caminhando em marcha lenta, progredindo na medida do burilamento dessas imperfeições que vão sendo sanadas através das provações e dos resgates de transtornos provocados pelos maus costumes ao longo das existências.
Vale a pena refletir sobre nossas atitudes e tendências atuais, porque delas depende o nosso futuro, e poderemos estar com o nosso proceder caminhando para altos degraus evolutivos, ou para o despenhadeiro tenebroso da desilusão, da estagnação, e do sofrimento. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos alerta sobre a necessidade de cuidarmos do “Corpo e da Alma”.

Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br