domingo, 31 de dezembro de 2017

Dias de alegria

Estamos vivendo dias de alegria.
A alegria é um dos objetivos da vida, mas sempre que atingimos outros objetivos eles produzem, igualmente, a alegria.
Portanto, a alegria é algo que sempre queremos vivenciar.
É claro que a alegria não pode ser sentida apenas pela sensibilidade do corpo físico, seja pelo som, pela bebida, pela comida, pelo prazer sexual.
Para que a alegria seja efetiva é necessário que, também, o espírito partilhe dessas sensações e de maneira que elas não sejam apenas momentâneas e após a sua fruição restem os danos morais emocionais e mesmo físicos.
Recentemente tivemos os tristes exemplos de duas jovens cantoras, de sucesso internacional.
Com a voz características de que foram dotadas, saíram do anonimato e galgaram a longa e perigosa escada da fama.
Com o sucesso e o dinheiro passaram a usufruir os chamados “prazeres da vida”. E quem se arroja por esse labirinto vai passando da bebida alcoólica, às drogas mais leves, enfileirando-as numa sequencia terrível, até chegar às mais pesadas.
De modo geral, emoldurando esse triste e nefando quadro o sexo desabrido, sem compromisso, sem responsabilidade para com o outro. Seja o parceiro ou filhos que surgem desses encontros carnais conturbados.
Essas duas jovens, dois ícones de sucesso como cantoras revelam, com todas as letras, que nem toda alegria leva à felicidade e ao bem estar.
A última que abalou o mundo musical e os fãs foi Whitney Houston.
Iniciou cantando em uma igreja e terminou sua breve existência física em uma banheira, talvez afogada.
As suas fotos, no início de suas carreiras, revelam-nas belas, saudáveis, expressões de rosto de bem com a vida.
Quase ao término de suas vidas físicas, seus retratos denotam a tristeza da degradação humana; corpos em frangalhos, almas em desespero.
Teremos nestes dias o chamado reinado de momo, o reinado do carnaval.
No carnaval temos o clima da alegria.
Nele há musica, os movimentos da dança, o agito, os pulos e a grande liberação dos hormônios cerebrais que produzem a alegria e o contentamento e, para muitos, também, a excitação dos hormônios sexuais.
Infelizmente, infelizmente surgem os excessos, que são sempre prejudiciais.
Buscamos em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, esclarecimentos sobre esse desejo, que pode se tornar incontido e prejudicial.
Na Questão nº 907, encontramos a indagação por ele formulada aos Mentores Espirituais:
- “Visto que o principio das paixões está na natureza, ela é mau em si mesmo?”.
A resposta oferecida foi elucidativa:
- “Não, a paixão está no excesso acrescentado à vontade, porque o principio foi dado ao homem para o bem, e as paixões podem levá-lo a grandes coisas, sendo o abuso que delas se faz que causa o mal”.
Na questão seguinte complementam:
“As paixões são como um cavalo que é útil quando está dominado e que é perigoso, quando ele é que domina.
Reconheceis, pois, que uma paixão torna-se perniciosa a partir do momento em que não podeis governá-la e que ela tem por resultado um prejuízo qualquer para vós ou para outrem”.
Mais adiante, na mesma questão, Kardec esclarece: “... O princípio das paixões, portanto, não é um mal, visto que repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. A paixão, propriamente dita, é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento. Ela está no excesso e não na causa, e esse excesso torna-se um mal quando tem por consequência um mal qualquer”.
Gozemos, pois, a alegria que dá alegria e evitemos a alegria que dá tristeza e infelicidade.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 17/02/2012, no Jornal Correio de Lins

domingo, 17 de dezembro de 2017

Feliz Natal e Prospero Ano Novo.


Tomar vergonha

1 –    A Doutrina Espírita nos ajuda a identificar nossas falhas. Mesmo assim, não mudamos nossa forma de agir. Por que isso acontece?
                  Ocorre que essa postura é superficial, jogo de cena conosco mesmos. Falta aquele cair em si, de que trata Jesus, na Parábola do Filho Pródigo (Lucas, 15:11-24), em que o indivíduo reconhece a extensão de sua miséria moral, o quão distanciado está de Deus, e dispõe-se a caminhar ao Seu encontro. Minha avó traduzia isso dizendo que é preciso tomar vergonha.
       
2 –    Sabemos que a Vida vem sendo comprometida no planeta em face da poluição produzida pelo Homem, que não respeita a Natureza. Por que agimos assim?
                  Falta tomar vergonha em relação ao assunto, assumindo uma consciência ecológica que nos leve a vigiar nosso comportamento nos contatos com a Natureza, tanto quanto devemos vigiar nossas iniciativas no relacionamento com o próximo.
       
 3 –   Considerando o clima de violência na atualidade, podemos dizer que muitos Espíritos estão fracassando em sua última oportunidade de renovação, despedindo-se da Terra, que já estaria deixando a condição de Mundo de Provas e Expiações e sendo promovida a Mundo de Regeneração?
                  Corremos sérios riscos se isso estiver acontecendo, porquanto, como ensinava Jesus no Sermão da Montanha (Mateus, 5:5), ficarão na Terra os que houverem conquistado a mansuetude. Para uma Humanidade sem vergonha, o vocábulo manso tem uma conotação pejorativa. Usá-lo ao nos dirigirmos a alguém soa ofensivo.

4 –    Como você definiria a expressão manso, sob o ponto de vista evangélico?
                  É alguém que venceu a agressividade, guardando as raízes de sua estabilidade emocional em si mesmo, não nos outros. Não reage aos estímulos externos. Age, conforme o ajuste interno efetuado à luz dos ensinamentos de Jesus, a partir do momento em que tomou vergonha.

5 –    A condição de Mundo de Regeneração, de que falam os Espíritos, estaria, então, distante?
                  Tão distante quanto nos encontramos da agressividade para a mansuetude. Creio que muita água vai rolar no rio do tempo até que tomemos vergonha, superando estágios primários de evolução que nos situam perto da taba.

6 –    Poderíamos dizer que a Misericórdia Divina exercita a paciência nesse sentido?
                  Deus não tem pressa.  Obviamente haverá o momento em que os recalcitrantes deixarão nosso planeta e serão confinados em mundos inferiores, onde a mestra Dor atuará com mais rigor. Chega o momento em que um pai, até por amor ao filho, será compelido a dar-lhe umas boas palmadas, a fim de que tome vergonha.

7  –   Qual a importância da religião em favor desse objetivo?
                  A religião é o estímulo para que cultivemos o aspecto sagrado da existência, buscando cumprir os compromissos que assumimos ao reencarnar. Ajuda-nos nessa empreitada, mas pouco valerá se não estivermos dispostos a tomar vergonha.

8 –    Considerando os esclarecimentos que nos oferece a respeito da vida espiritual, onde colheremos as consequências das ações humanas, podemos dizer que o Espiritismo nos ajuda a lidar melhor com os desafios da existência?
                  Sem dúvida! Quem sabe de onde veio, por que vive na Terra e para onde vai, certamente estará mais bem orientado nesse sentido. Não obstante, ainda aqui, a mudança de rumo, em favor do melhor, o tomar vergonha na cara é muito mais uma questão de acordar do que de aprender. Usando uma expressão popular, seria ligar o desconfiômetro, muito mais cumprir a sinalização da Vida, do que simplesmente conhecer seus regulamentos.


Richard Simonetti

e-mail: richardsimonetti@uol.com.br

domingo, 10 de dezembro de 2017

O Passaporte

(Reflexão)

Embalado pelas meditações sobre a vivência terrena, ele adormeceu. E viajando pelas veredas do sono, o carrossel confortável do relaxamento físico lhe permitia vislumbrar caminhos diferentes dos que estava acostumado a trilhar. Tudo estava bem, a visualização que mentalizava lhe mostrava coisas prazerosas do conforto, do bem estar que a vida lhe proporcionava. Trazia consigo a satisfação de ser aquilo que sempre pretendera ser. Estava tranquilo consigo mesmo, tudo que realizara a seu ver estava correto, se vangloriava por isto.

As coisas aconteciam como inexplicável e maravilhoso deslumbramento, mas as condições de vivência do momento lhe deixavam confuso, incerto, até que a situação lhe colocou em questionamento diante de vigoroso e educado recepcionista, que lhe perguntou: - Seu passaporte meu irmão? - Que passaporte é esse se não se lembrava de embarcar em nenhum veiculo com destino certo ou mesmo ignorado? Foi então que o recepcionista lhe informou: - Procure na bagagem da sua consciência, e encontrará os registros indeléveis arquivados com carinho, e que lhe darão a devida autorização para a livre locomoção às estâncias a que tiveres o direito de transitar e viver. Mas suas bolsas estavam cheias, a fortuna lhe sorria, seus cofres com muitas joias, seu prestigio social era incontestável... Indignado e aborrecido com a ousadia de lhe pedirem um passaporte, questionou com voz arrogante: - Porque me pedes um passaporte? Foi quando a resposta lhe chegou através de um simples olhar meigo e carinhoso do recepcionista... Então ele viu-se despojado de tudo, até mesmo de suas vestes valiosas que gostava de ostentar. Sua memória retrocedia incontrolavelmente, com pensamentos e visualizações a principio confusas, mas depois com incrível realidade: fora injusto com os semelhantes em muitas situações, a ascendência material que tivera foi alicerçada em prejuízo de muitas vítimas inofensivas e necessitadas, fora cruel, irresponsável, desonesto, e bajulador daqueles que compartilhavam consigo a mesma ganância e sede de poder. Assustado indagou: - Onde minha fortuna, onde meus defensores, onde aqueles que promovi para que me ajudassem? Tudo em vão... Estava só diante de tantos questionamentos. Então o recepcionista lhe informou: - A leitura de seu passaporte lhe permite entrada e estadia no setor de recuperação, para que possa compreender os desígnios Divinos reservados a todos que necessitam do burilamento temporário e preparatório para novas etapas de vivências, reparações, e provações adequadas, através de ásperas condições que permitam o aperfeiçoamento do espírito. A partir dali ele prosseguiu caminhando desiludido pela paisagem ressequida, solo estéril, com atmosfera pesada e sombria, e o ar sufocante a dificultar-lhe a respiração... Em direção à comunidade que lhe acolheria até a próxima etapa de experiências terrenas.

Foi então, que ele pôde perceber a sua nova realidade: Estava em outro plano de vida. Fôra surpreendido quando tudo lhe parecia estar de acordo com os seus desejos. A atual circunstância mostrava-lhe a correspondência aos seus verdadeiros sentimentos, que alimentava durante a vida terrena. Nesse momento bateu-lhe à porta da consciência... O desespero ao pensar no recomeço, talvez mais difícil que a oportunidade de progresso que não soubera aproveitar durante a vida que lhe foi concedida.

A doutrina espírita sempre nos alerta de que as boas intenções, as boas ações, a pratica da caridade, e a retidão de caráter é que vai nos permitir situar nas regiões espirituais que aspiramos alcançar.


Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

domingo, 3 de dezembro de 2017

À procura da felicidade

Conversava com amigo sobre temas variados, sem maior preocupação, quando ele me disse:
- Sabe, eu não acredito em felicidade.
Às vezes você está bem e, de repente, surge um problema: ou com você, com familiares, no ambiente de trabalho, ou, sei lá, em qualquer lugar ou em qualquer tempo.
Puxa, é só problema por toda parte!
- Calma, Augusto. Depende de como você está procurando a felicidade ou o bem estar.
Por sinal, tenho aqui, na pasta, umas anotações que fiz para basear a palestra proferida alguns dias na Casa dos Espíritas.
Você quer ler as anotações, o resumo?
- Não sei se vai adiantar, mas deixe-me ler.
Passei-lhe a folha com as anotações, esclarecendo: olhe, em primeiro lugar essas anotações se dirigem a mim mesmo, tá?
Ele principiou a ler:
A nossa vida diária é repleta de lições que deveremos aprender para prosseguirmos em nosso caminho de aprendizagem que nos leva, gradativamente, à ampliação da capacidade de sermos felizes.
A felicidade, em nossas vidas, não é algo que possamos encontrar pronta para ser adquirida em lojas, farmácias, casas de diversões ou qualquer outro lugar material.
A felicidade é um estado psicológico e espiritual que precisamos construir, diariamente.
Para construirmos essa felicidade, necessitamos enfrentar permanentemente os desafios que se situam adiante de nós: carência de recursos financeiros, problemas na família, doenças, perda de emprego, morte e outros.
Desses problemas, alguns podem e devem ser resolvidos com a nossa ação consciente e previdente, outros não temos como eliminá-los de nossas vidas e, então, é necessário saber como suportá-los, como, por exemplo, uma doença incurável ou a morte.
Muitas vezes as questões enfrentadas por duas pessoas são iguais ou semelhantes, porque tão diferentes reações?
O fato ou os fatos podem ser os mesmos, contudo cada um repercute diferente em cada uma delas.
Para algumas pessoas perda significa perda mesmo: nulidade, anulação, desespero e revolta; para outras, perda significa: ganho, acréscimo, experiência válida para novas realizações.
Daí a importância e o significado de como nós, emocional, sentimental e espiritualmente reagimos diante desses fatos.
Ante os impactos emocionais produzidos pelos problemas, precisamos construir a segurança íntima que nos proporcionará a desejável serenidade.
Uma das condições para a construção da felicidade é esforçarmo-nos para desenvolver a paz, como fruto da compreensão e da ação assertiva.
Também será interessante observarmos que os nossos problemas não são apenas nossos, mas outras pessoas também passam ou já passaram por eles, como nossos familiares.
Para livrar-nos da ansiedade é indispensável entendermos que os nossos entes queridos têm os seus próprios caminhos e ajudar não é impor, exigir ou dominar.
Como vemos, a ampliação da nossa felicidade depende não só de nós mesmos no roteiro de nossas vidas, mas, também, de compreendermos a vida e a vivência daqueles que partilham o nosso existir.
Augusto terminou de ler, ficou algum tempo olhando para o papel.
Em seguida, disse:
- Me dê uma cópia. Não é fácil, mas vale a pena tentar seguir.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 10/02/2012, no Jornal Correio de Lins