domingo, 23 de outubro de 2016

Fé, rogativa e resultado

Aylton Paiva
Conversávamos a respeito de fé.
O tema fundamental havia sido o relato do evangelista Mateus, conforme consta do Cap. XVII, vv. 14 a 20.
A ênfase fora dada à frase: “Pois em verdade vos digo, se tivéssemos a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te dai para ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível”.
- Jesus.
Em seguida comentara-se a reflexão de Kardec: “No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não consegue fazer quem duvida de si. Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em suma, com que se depara parte dos homens, ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina. O interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho de quem trabalha pelo progresso da Humanidade”. (1)
- Pois é, interrompeu Alípio, nesse sentido mais amplo dá para entender; no entanto, no dia a dia, como é difícil exercitar essa “tal de fé”.
Tenho, aqui, um texto sobre a fé, a rogativa e resultado muito interessante para nossas reflexões – prorrompeu Miguel – posso lê-lo?
Todos assentiram.
- É um texto de Emmanuel/Chico Xavier. Diz assim:
“Em matéria de fé não te esqueças do esforço na realização que te propões a alcançar.
O lavrador confia na colheita, mas, para isso, não menospreza o próprio suor no arado laborioso, permanecendo em atenciosa vigília, desde os problemas da sementeira às equações do celeiro.
O arquiteto conta materializar a construção que lhe nasce do gênio criativo, porém, para atingi-la, vela pela segurança da obra, desde a base ao teto, consciente de que insignificante erro de cálculo lhe comprometeria o serviço integral.
O professor conhece os méritos da escola, mas não ignora a necessidade da própria renuncia na formação cultural do discípulo, permanecendo na tarefa assistencial em favor dele, desde o alfabeto ao título de competência.
O operário espera o vencimento mensal que lhe assegura a subsistência, no entanto, sabe que não pode relaxar os próprios deveres, a fim de que a supervisão do trabalho, não o exonere ou prejudique.
Fé que apenas brilhe na palavra vazia ou fé parasitária que somente se equilibra pela influência alheia, nutrindo-se tão somente de promessas brilhantes e relegando a outrem as obrigações que a vida lhe assinala, serão sempre atitudes superficiais daqueles que se infantilizam à frente das responsabilidades que o senhor confere a cada um de nós.
Aceitemos o imperativo de nossa própria renovações com o Cristo, se realmente buscarmos um clima de elevação à própria existência.
Tracemos nosso ideal superior, utilizando nossas melhores esperanças, todavia, não nos esqueçamos de transpirar no esforço próprio, doando nossas forças na edificação, que prendemos buscar, porque a fé em si constitui dinamismo atuante de nossas energias, condicionado à forma e à natureza de nossas orações ou de nossos desejos, impondo-nos, inevitavelmente, o resultado das ações que nos são próprias, seja na luz redentora do bem ou na treva escravizante do mal”. (2)
- Vejam bem, - atalhou Ismael – as reflexões de Emmanuel nos demonstram que a fé pede convicção e ação para atingirmos os objetivos estabelecidos e dentro da razoabilidade.
A fé não pode ser cega, nem exaltação de fanatismo, mas “dinamismo atuante de nossas energias” na realização do nosso bem, tanto quanto, no bem do nosso semelhante.
Todos concordamos.
A reunião terminou e cada um foi para seu lar “ruminando” aquelas ideias.
Bibliografia:
(1) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Editora FEB
(2) Fé, Paz, Amor, Emmanuel/Chico Xavier – Editora GEEM.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 03/06/2011, no Jornal Correio de Lins

domingo, 9 de outubro de 2016

O que fazer com a cólera


Aylton Paiva
“Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. Jesus (Mateus, cap. 5, v. 5).
Esta frase é atribuída a Jesus como exortação para que as pessoas busquem a vivência da mansuetude, da brandura, da paz, da docilidade.
Naturalmente elas se contrapõem à irritação, á raiva, à cólera, á violência, que decorrem do estado de frustração, de contrariedade.
Allan Kardec comenta, na análise desse versículo: “Por está máxima, Jesus faz da brandura, da moderação, da afabilidade e da paciência, uma lei. Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês de que alguém possa usar para com seus semelhantes”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IX, item 4 – Ed. FEB).
Não há dúvida que ante contrariedades e frustrações deixamos nos envolver por estados emocionais de desequilíbrio manifestando-se então, em nosso comportamento a agressividade, a irritação e a até mesmo a cólera.
No entanto, temos que entender que essa reação é uma força instintiva. Ela está em nosso psiquismo até mesmo como um instrumento de preservação da espécie e da coletividade.
É uma força de proteção, todavia exteriorizada em intensidade maior e de forma descontrolada pode gerar males de graves consequências para nós e para o alvo dessa força instintiva.
Há energias que, em si mesmas, são neutras: podem fazer o bem ou o mal.
A energia elétrica que move aparelhos como a geladeira e o aparelho de televisão é a mesma que na cadeira elétrica aplicada ao condenado leva-o, em instantes, à morte.
Procuremos, então, entender essa força instintiva, dominá-la e aplica-la para o nosso bem.
Para conhecê-la vamos nos propor algumas questões a respondê-las com sinceridade:
- Quais as situações que me deixam irritado, irado ou até com cólera?
- Os meus momentos desses estados emocionais são gerados por simples episódios do dia a dia?
- Quando estou com raiva, encolerizado, extravaso essa emoção com violência?
- Ou quando sinto irritação, raiva, cólera, “engulo” essas emoções?
- Quando irritado ou encolerizado arrumo justificativas para não reagir exteriormente?
- Após alguns momentos em que vivi tais intensas emoções descontroladas acho que minhas reações foram proporcionais aos fatos ou acontecimentos que a desencadearam?
- Após “minhas explosões” arrependo-me do que falei e fiz?
- Tenho desejo de modificar meu comportamento?
As respostas a essas indagações poderão nos dar uma “radiografia” da intensidade e da qualidade das nossas reações em momentos de contrariedade e frustração.
Lembremos que, em certas situações, a reação é necessária e até mesmo saudável, principalmente quando a reação pode ser entendida como indignação e defesa de nossos direitos individuais e coletivos.
Precisamos ter alguns mecanismos que nos ajudem a “domar a cólera” para transformá-la em força emocional e psíquica que nos auxilie.
Todos já lemos em para-choque de caminhões ou mesmo em vidros trazeiros de carros: “Tá nervoso, vá pescar!”. De fato, ajuda.
Todavia, nem sempre é possível ir pescar. Nunca pescou, não sabe pescar ou ... não tem rio por perto.
Há, então, outras dicas: Sai do cenário e vai dar uma volta: homens para o cafezinho e mulheres ver vitrines de loja! (deixa a carteira e o cartão em casa).
Arrumar uma gaveta ou armário.
Ouvir uma música que tranquilize o “animo”, uns com Ave Maria, de Gounod; outros com sertanejo ou rock. Enfim, cada um na sua.
Se não der para fazer nada disso, encha a boca com água e conte de um a dez ou até mil, conforme a necessidade.
Se precisar faça tudo isso e ... ore!
O importante é: não se envenene com a cólera, nem envenene o seu próximo.
Vale aquela frase: “Paz e amor, bicho!”

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 20/05/2011, no Jornal Correio de Lins

domingo, 2 de outubro de 2016

A culpa e o arrependimento

Aylton Paiva
Conversava com o meu amigo José quando ele, de inopino, me disse:
- Estou chateado... Falei umas coisas para minha mulher e num tom áspero e, agora, estou chateado. Arrependido. Como é difícil a gente viver bem, né?
Falei:
Você tem razão. Isso até me levou a pensar muito e até a escrever sobre a questão.
- É? Eu gostaria de ler o que você escreveu.
- Fui até o escritório e trouxe a página escrita.
- Leia, por favor.
- Sim, respondi-lhe. Eu mesmo preciso ler e meditar muito sobre esse tema. Vamos lá. Iniciei a leitura:
Todos nós desejamos estar em estado emocional de harmonia; é uma meta para o bem-estar, porém nem sempre isso é possível.
Um estado que desestrutura o nosso emocional é a culpa.
Para sentirmos a culpa, precisamos ter um padrão de comportamento que nós respeitamos e que é aceito e mesmo exigido pelo grupo social a que pertencemos e pela cultura social que nos envolve.
Desta forma as infrações às normas morais, sociais e mesmo legais são variáveis no tempo, no espaço e entre as culturas.
Embora essa diversidade há, porém, conceitos gerais sobre a culpa quando, por exemplo, praticamos atos que atentam contra o direito do próximo. Fere a sua integridade física, psicológica ou espiritual.
No entanto, há certos condicionamentos que vêm desde a formação familiar de, sutilmente, despertar um sentimento de culpa quando não atendemos a interesses e mesmo exigências familiares e, por consequência, de outras pessoas além do reduto doméstico.
Quando praticamos um ato, pronunciamos uma palavra que depois de realizados nos arrependemos deles e sentimos culpa, a nossa reação, em seguida é de:
a)   Sentirmos que, como pessoa, não temos valor;
b)   Justificarmos, a qualquer custo, o nosso comportamento;
c)   Ser por demais doloroso e difícil examinarmos o comportamento tido como inadequado.
É claro que o nosso comportamento deverá sempre adequado de maneira que não venhamos a ferir os direitos do próximo, no entanto, deveremos considerar que não somos ainda espíritos perfeitos, como nos diz o Espiritismo.
Se constatarmos que agimos deliberadamente mal intencionados é óbvio que se imporá a devida reparação, pelo contato direto com o ofendido ou se foi algo mais grave teremos a dosagem da reparação pelas leis humana ou pela lei Divina.
A culpa deve ser um estado emocional e mesmo sentimental que nos proporciona a avaliação daquilo que fizemos, de forma sincera e honesta.
Com essa clareza de visão deveremos, então, agir no sentido da reparação do que não foi bem feito e ai, “cada caso é um caso”.
Assim pensando e agindo concluiremos que:
a)   Todos nós temos valor, independentemente dos possíveis atos inadequados que praticamos, pois somos espíritos em evolução;
b)   Deveremos aceitar o nosso comportamento e, mesmo se agimos por impulso, reconhece-lo com sinceridade e honestidade;
c)   Por mais doloroso que seja, somente nos reequilibraremos emocional e sentimentalmente se admitirmos a prática daquele ato.
Consequentemente, deveremos estar preparados para a reparação que a culpa nos indica.
A culpa bem entendida é poderoso instrumento para o nosso aprimoramento, no entanto não deve ser confundida com aqueles estados que nós geramos e que nos levam à depressão ou aqueles que outras pessoas procuram nos inculcar para nos explorarem emocional e sentimentalmente.
Quando alguém quer nos imputar a culpa deveremos fazer a análise racional se aquilo é verdade ou não. Se for, já sabemos o mínimo que nos compete fazer, se não for torna-se necessário mostrar para a pessoa a sua conduta exploradora e manipuladora.
Terminei a leitura.
- Você me dá uma cópia?
- Claro, ela não é minha, pois o que aí está é uma síntese do que tenho lido em autores espíritas ou não.
- Agora vamos para o exercício, que não é fácil – completou José.
- Pois é, e agora José?
Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 13/05/2011, no Jornal Correio de Lins