domingo, 2 de outubro de 2016

A culpa e o arrependimento

Aylton Paiva
Conversava com o meu amigo José quando ele, de inopino, me disse:
- Estou chateado... Falei umas coisas para minha mulher e num tom áspero e, agora, estou chateado. Arrependido. Como é difícil a gente viver bem, né?
Falei:
Você tem razão. Isso até me levou a pensar muito e até a escrever sobre a questão.
- É? Eu gostaria de ler o que você escreveu.
- Fui até o escritório e trouxe a página escrita.
- Leia, por favor.
- Sim, respondi-lhe. Eu mesmo preciso ler e meditar muito sobre esse tema. Vamos lá. Iniciei a leitura:
Todos nós desejamos estar em estado emocional de harmonia; é uma meta para o bem-estar, porém nem sempre isso é possível.
Um estado que desestrutura o nosso emocional é a culpa.
Para sentirmos a culpa, precisamos ter um padrão de comportamento que nós respeitamos e que é aceito e mesmo exigido pelo grupo social a que pertencemos e pela cultura social que nos envolve.
Desta forma as infrações às normas morais, sociais e mesmo legais são variáveis no tempo, no espaço e entre as culturas.
Embora essa diversidade há, porém, conceitos gerais sobre a culpa quando, por exemplo, praticamos atos que atentam contra o direito do próximo. Fere a sua integridade física, psicológica ou espiritual.
No entanto, há certos condicionamentos que vêm desde a formação familiar de, sutilmente, despertar um sentimento de culpa quando não atendemos a interesses e mesmo exigências familiares e, por consequência, de outras pessoas além do reduto doméstico.
Quando praticamos um ato, pronunciamos uma palavra que depois de realizados nos arrependemos deles e sentimos culpa, a nossa reação, em seguida é de:
a)   Sentirmos que, como pessoa, não temos valor;
b)   Justificarmos, a qualquer custo, o nosso comportamento;
c)   Ser por demais doloroso e difícil examinarmos o comportamento tido como inadequado.
É claro que o nosso comportamento deverá sempre adequado de maneira que não venhamos a ferir os direitos do próximo, no entanto, deveremos considerar que não somos ainda espíritos perfeitos, como nos diz o Espiritismo.
Se constatarmos que agimos deliberadamente mal intencionados é óbvio que se imporá a devida reparação, pelo contato direto com o ofendido ou se foi algo mais grave teremos a dosagem da reparação pelas leis humana ou pela lei Divina.
A culpa deve ser um estado emocional e mesmo sentimental que nos proporciona a avaliação daquilo que fizemos, de forma sincera e honesta.
Com essa clareza de visão deveremos, então, agir no sentido da reparação do que não foi bem feito e ai, “cada caso é um caso”.
Assim pensando e agindo concluiremos que:
a)   Todos nós temos valor, independentemente dos possíveis atos inadequados que praticamos, pois somos espíritos em evolução;
b)   Deveremos aceitar o nosso comportamento e, mesmo se agimos por impulso, reconhece-lo com sinceridade e honestidade;
c)   Por mais doloroso que seja, somente nos reequilibraremos emocional e sentimentalmente se admitirmos a prática daquele ato.
Consequentemente, deveremos estar preparados para a reparação que a culpa nos indica.
A culpa bem entendida é poderoso instrumento para o nosso aprimoramento, no entanto não deve ser confundida com aqueles estados que nós geramos e que nos levam à depressão ou aqueles que outras pessoas procuram nos inculcar para nos explorarem emocional e sentimentalmente.
Quando alguém quer nos imputar a culpa deveremos fazer a análise racional se aquilo é verdade ou não. Se for, já sabemos o mínimo que nos compete fazer, se não for torna-se necessário mostrar para a pessoa a sua conduta exploradora e manipuladora.
Terminei a leitura.
- Você me dá uma cópia?
- Claro, ela não é minha, pois o que aí está é uma síntese do que tenho lido em autores espíritas ou não.
- Agora vamos para o exercício, que não é fácil – completou José.
- Pois é, e agora José?
Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 13/05/2011, no Jornal Correio de Lins


Nenhum comentário:

Postar um comentário