Aylton Paiva |
Conversava com o meu amigo José quando ele, de
inopino, me disse:
- Estou chateado... Falei umas coisas para minha
mulher e num tom áspero e, agora, estou chateado. Arrependido. Como é difícil a
gente viver bem, né?
Falei:
Você tem razão. Isso até me levou a pensar muito e
até a escrever sobre a questão.
- É? Eu gostaria de ler o que você escreveu.
- Fui até o escritório e trouxe a página escrita.
- Leia, por favor.
- Sim, respondi-lhe. Eu mesmo preciso ler e meditar
muito sobre esse tema. Vamos lá. Iniciei a leitura:
Todos nós desejamos estar em estado emocional de
harmonia; é uma meta para o bem-estar, porém nem sempre isso é possível.
Um estado que desestrutura o nosso emocional é a
culpa.
Para sentirmos a culpa, precisamos ter um padrão de
comportamento que nós respeitamos e que é aceito e mesmo exigido pelo grupo
social a que pertencemos e pela cultura social que nos envolve.
Desta forma as infrações às normas morais, sociais
e mesmo legais são variáveis no tempo, no espaço e entre as culturas.
Embora essa diversidade há, porém, conceitos gerais
sobre a culpa quando, por exemplo, praticamos atos que atentam contra o direito
do próximo. Fere a sua integridade física, psicológica ou espiritual.
No entanto, há certos condicionamentos que vêm
desde a formação familiar de, sutilmente, despertar um sentimento de culpa
quando não atendemos a interesses e mesmo exigências familiares e, por
consequência, de outras pessoas além do reduto doméstico.
Quando praticamos um ato, pronunciamos uma palavra
que depois de realizados nos arrependemos deles e sentimos culpa, a nossa
reação, em seguida é de:
a) Sentirmos que, como pessoa, não temos valor;
b) Justificarmos, a qualquer custo, o nosso comportamento;
c) Ser por demais doloroso e difícil examinarmos o comportamento tido como
inadequado.
É claro que o nosso comportamento deverá sempre
adequado de maneira que não venhamos a ferir os direitos do próximo, no
entanto, deveremos considerar que não somos ainda espíritos perfeitos, como nos
diz o Espiritismo.
Se constatarmos que agimos deliberadamente mal
intencionados é óbvio que se imporá a devida reparação, pelo contato direto com
o ofendido ou se foi algo mais grave teremos a dosagem da reparação pelas leis
humana ou pela lei Divina.
A culpa deve ser um estado emocional e mesmo
sentimental que nos proporciona a avaliação daquilo que fizemos, de forma
sincera e honesta.
Com essa clareza de visão deveremos, então, agir no
sentido da reparação do que não foi bem feito e ai, “cada caso é um caso”.
Assim pensando e agindo concluiremos que:
a) Todos nós temos valor, independentemente dos possíveis atos inadequados
que praticamos, pois somos espíritos em evolução;
b) Deveremos aceitar o nosso comportamento e, mesmo se agimos por impulso, reconhece-lo
com sinceridade e honestidade;
c) Por mais doloroso que seja, somente nos reequilibraremos emocional e
sentimentalmente se admitirmos a prática daquele ato.
Consequentemente, deveremos estar preparados para a
reparação que a culpa nos indica.
A culpa bem entendida é poderoso instrumento para o
nosso aprimoramento, no entanto não deve ser confundida com aqueles estados que
nós geramos e que nos levam à depressão ou aqueles que outras pessoas procuram
nos inculcar para nos explorarem emocional e sentimentalmente.
Quando alguém quer nos imputar a culpa deveremos
fazer a análise racional se aquilo é verdade ou não. Se for, já sabemos o mínimo
que nos compete fazer, se não for torna-se necessário mostrar para a pessoa a
sua conduta exploradora e manipuladora.
Terminei a leitura.
- Você me dá uma cópia?
- Claro, ela não é minha, pois o que aí está é uma síntese
do que tenho lido em autores espíritas ou não.
- Agora vamos para o exercício, que não é fácil –
completou José.
- Pois é, e agora José?
Aylton
Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na
sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).
Obs.:
Artigo publicado em 13/05/2011, no Jornal Correio de Lins
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