domingo, 31 de dezembro de 2017

Dias de alegria

Estamos vivendo dias de alegria.
A alegria é um dos objetivos da vida, mas sempre que atingimos outros objetivos eles produzem, igualmente, a alegria.
Portanto, a alegria é algo que sempre queremos vivenciar.
É claro que a alegria não pode ser sentida apenas pela sensibilidade do corpo físico, seja pelo som, pela bebida, pela comida, pelo prazer sexual.
Para que a alegria seja efetiva é necessário que, também, o espírito partilhe dessas sensações e de maneira que elas não sejam apenas momentâneas e após a sua fruição restem os danos morais emocionais e mesmo físicos.
Recentemente tivemos os tristes exemplos de duas jovens cantoras, de sucesso internacional.
Com a voz características de que foram dotadas, saíram do anonimato e galgaram a longa e perigosa escada da fama.
Com o sucesso e o dinheiro passaram a usufruir os chamados “prazeres da vida”. E quem se arroja por esse labirinto vai passando da bebida alcoólica, às drogas mais leves, enfileirando-as numa sequencia terrível, até chegar às mais pesadas.
De modo geral, emoldurando esse triste e nefando quadro o sexo desabrido, sem compromisso, sem responsabilidade para com o outro. Seja o parceiro ou filhos que surgem desses encontros carnais conturbados.
Essas duas jovens, dois ícones de sucesso como cantoras revelam, com todas as letras, que nem toda alegria leva à felicidade e ao bem estar.
A última que abalou o mundo musical e os fãs foi Whitney Houston.
Iniciou cantando em uma igreja e terminou sua breve existência física em uma banheira, talvez afogada.
As suas fotos, no início de suas carreiras, revelam-nas belas, saudáveis, expressões de rosto de bem com a vida.
Quase ao término de suas vidas físicas, seus retratos denotam a tristeza da degradação humana; corpos em frangalhos, almas em desespero.
Teremos nestes dias o chamado reinado de momo, o reinado do carnaval.
No carnaval temos o clima da alegria.
Nele há musica, os movimentos da dança, o agito, os pulos e a grande liberação dos hormônios cerebrais que produzem a alegria e o contentamento e, para muitos, também, a excitação dos hormônios sexuais.
Infelizmente, infelizmente surgem os excessos, que são sempre prejudiciais.
Buscamos em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, esclarecimentos sobre esse desejo, que pode se tornar incontido e prejudicial.
Na Questão nº 907, encontramos a indagação por ele formulada aos Mentores Espirituais:
- “Visto que o principio das paixões está na natureza, ela é mau em si mesmo?”.
A resposta oferecida foi elucidativa:
- “Não, a paixão está no excesso acrescentado à vontade, porque o principio foi dado ao homem para o bem, e as paixões podem levá-lo a grandes coisas, sendo o abuso que delas se faz que causa o mal”.
Na questão seguinte complementam:
“As paixões são como um cavalo que é útil quando está dominado e que é perigoso, quando ele é que domina.
Reconheceis, pois, que uma paixão torna-se perniciosa a partir do momento em que não podeis governá-la e que ela tem por resultado um prejuízo qualquer para vós ou para outrem”.
Mais adiante, na mesma questão, Kardec esclarece: “... O princípio das paixões, portanto, não é um mal, visto que repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. A paixão, propriamente dita, é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento. Ela está no excesso e não na causa, e esse excesso torna-se um mal quando tem por consequência um mal qualquer”.
Gozemos, pois, a alegria que dá alegria e evitemos a alegria que dá tristeza e infelicidade.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 17/02/2012, no Jornal Correio de Lins

domingo, 17 de dezembro de 2017

Feliz Natal e Prospero Ano Novo.


Tomar vergonha

1 –    A Doutrina Espírita nos ajuda a identificar nossas falhas. Mesmo assim, não mudamos nossa forma de agir. Por que isso acontece?
                  Ocorre que essa postura é superficial, jogo de cena conosco mesmos. Falta aquele cair em si, de que trata Jesus, na Parábola do Filho Pródigo (Lucas, 15:11-24), em que o indivíduo reconhece a extensão de sua miséria moral, o quão distanciado está de Deus, e dispõe-se a caminhar ao Seu encontro. Minha avó traduzia isso dizendo que é preciso tomar vergonha.
       
2 –    Sabemos que a Vida vem sendo comprometida no planeta em face da poluição produzida pelo Homem, que não respeita a Natureza. Por que agimos assim?
                  Falta tomar vergonha em relação ao assunto, assumindo uma consciência ecológica que nos leve a vigiar nosso comportamento nos contatos com a Natureza, tanto quanto devemos vigiar nossas iniciativas no relacionamento com o próximo.
       
 3 –   Considerando o clima de violência na atualidade, podemos dizer que muitos Espíritos estão fracassando em sua última oportunidade de renovação, despedindo-se da Terra, que já estaria deixando a condição de Mundo de Provas e Expiações e sendo promovida a Mundo de Regeneração?
                  Corremos sérios riscos se isso estiver acontecendo, porquanto, como ensinava Jesus no Sermão da Montanha (Mateus, 5:5), ficarão na Terra os que houverem conquistado a mansuetude. Para uma Humanidade sem vergonha, o vocábulo manso tem uma conotação pejorativa. Usá-lo ao nos dirigirmos a alguém soa ofensivo.

4 –    Como você definiria a expressão manso, sob o ponto de vista evangélico?
                  É alguém que venceu a agressividade, guardando as raízes de sua estabilidade emocional em si mesmo, não nos outros. Não reage aos estímulos externos. Age, conforme o ajuste interno efetuado à luz dos ensinamentos de Jesus, a partir do momento em que tomou vergonha.

5 –    A condição de Mundo de Regeneração, de que falam os Espíritos, estaria, então, distante?
                  Tão distante quanto nos encontramos da agressividade para a mansuetude. Creio que muita água vai rolar no rio do tempo até que tomemos vergonha, superando estágios primários de evolução que nos situam perto da taba.

6 –    Poderíamos dizer que a Misericórdia Divina exercita a paciência nesse sentido?
                  Deus não tem pressa.  Obviamente haverá o momento em que os recalcitrantes deixarão nosso planeta e serão confinados em mundos inferiores, onde a mestra Dor atuará com mais rigor. Chega o momento em que um pai, até por amor ao filho, será compelido a dar-lhe umas boas palmadas, a fim de que tome vergonha.

7  –   Qual a importância da religião em favor desse objetivo?
                  A religião é o estímulo para que cultivemos o aspecto sagrado da existência, buscando cumprir os compromissos que assumimos ao reencarnar. Ajuda-nos nessa empreitada, mas pouco valerá se não estivermos dispostos a tomar vergonha.

8 –    Considerando os esclarecimentos que nos oferece a respeito da vida espiritual, onde colheremos as consequências das ações humanas, podemos dizer que o Espiritismo nos ajuda a lidar melhor com os desafios da existência?
                  Sem dúvida! Quem sabe de onde veio, por que vive na Terra e para onde vai, certamente estará mais bem orientado nesse sentido. Não obstante, ainda aqui, a mudança de rumo, em favor do melhor, o tomar vergonha na cara é muito mais uma questão de acordar do que de aprender. Usando uma expressão popular, seria ligar o desconfiômetro, muito mais cumprir a sinalização da Vida, do que simplesmente conhecer seus regulamentos.


Richard Simonetti

e-mail: richardsimonetti@uol.com.br

domingo, 10 de dezembro de 2017

O Passaporte

(Reflexão)

Embalado pelas meditações sobre a vivência terrena, ele adormeceu. E viajando pelas veredas do sono, o carrossel confortável do relaxamento físico lhe permitia vislumbrar caminhos diferentes dos que estava acostumado a trilhar. Tudo estava bem, a visualização que mentalizava lhe mostrava coisas prazerosas do conforto, do bem estar que a vida lhe proporcionava. Trazia consigo a satisfação de ser aquilo que sempre pretendera ser. Estava tranquilo consigo mesmo, tudo que realizara a seu ver estava correto, se vangloriava por isto.

As coisas aconteciam como inexplicável e maravilhoso deslumbramento, mas as condições de vivência do momento lhe deixavam confuso, incerto, até que a situação lhe colocou em questionamento diante de vigoroso e educado recepcionista, que lhe perguntou: - Seu passaporte meu irmão? - Que passaporte é esse se não se lembrava de embarcar em nenhum veiculo com destino certo ou mesmo ignorado? Foi então que o recepcionista lhe informou: - Procure na bagagem da sua consciência, e encontrará os registros indeléveis arquivados com carinho, e que lhe darão a devida autorização para a livre locomoção às estâncias a que tiveres o direito de transitar e viver. Mas suas bolsas estavam cheias, a fortuna lhe sorria, seus cofres com muitas joias, seu prestigio social era incontestável... Indignado e aborrecido com a ousadia de lhe pedirem um passaporte, questionou com voz arrogante: - Porque me pedes um passaporte? Foi quando a resposta lhe chegou através de um simples olhar meigo e carinhoso do recepcionista... Então ele viu-se despojado de tudo, até mesmo de suas vestes valiosas que gostava de ostentar. Sua memória retrocedia incontrolavelmente, com pensamentos e visualizações a principio confusas, mas depois com incrível realidade: fora injusto com os semelhantes em muitas situações, a ascendência material que tivera foi alicerçada em prejuízo de muitas vítimas inofensivas e necessitadas, fora cruel, irresponsável, desonesto, e bajulador daqueles que compartilhavam consigo a mesma ganância e sede de poder. Assustado indagou: - Onde minha fortuna, onde meus defensores, onde aqueles que promovi para que me ajudassem? Tudo em vão... Estava só diante de tantos questionamentos. Então o recepcionista lhe informou: - A leitura de seu passaporte lhe permite entrada e estadia no setor de recuperação, para que possa compreender os desígnios Divinos reservados a todos que necessitam do burilamento temporário e preparatório para novas etapas de vivências, reparações, e provações adequadas, através de ásperas condições que permitam o aperfeiçoamento do espírito. A partir dali ele prosseguiu caminhando desiludido pela paisagem ressequida, solo estéril, com atmosfera pesada e sombria, e o ar sufocante a dificultar-lhe a respiração... Em direção à comunidade que lhe acolheria até a próxima etapa de experiências terrenas.

Foi então, que ele pôde perceber a sua nova realidade: Estava em outro plano de vida. Fôra surpreendido quando tudo lhe parecia estar de acordo com os seus desejos. A atual circunstância mostrava-lhe a correspondência aos seus verdadeiros sentimentos, que alimentava durante a vida terrena. Nesse momento bateu-lhe à porta da consciência... O desespero ao pensar no recomeço, talvez mais difícil que a oportunidade de progresso que não soubera aproveitar durante a vida que lhe foi concedida.

A doutrina espírita sempre nos alerta de que as boas intenções, as boas ações, a pratica da caridade, e a retidão de caráter é que vai nos permitir situar nas regiões espirituais que aspiramos alcançar.


Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

domingo, 3 de dezembro de 2017

À procura da felicidade

Conversava com amigo sobre temas variados, sem maior preocupação, quando ele me disse:
- Sabe, eu não acredito em felicidade.
Às vezes você está bem e, de repente, surge um problema: ou com você, com familiares, no ambiente de trabalho, ou, sei lá, em qualquer lugar ou em qualquer tempo.
Puxa, é só problema por toda parte!
- Calma, Augusto. Depende de como você está procurando a felicidade ou o bem estar.
Por sinal, tenho aqui, na pasta, umas anotações que fiz para basear a palestra proferida alguns dias na Casa dos Espíritas.
Você quer ler as anotações, o resumo?
- Não sei se vai adiantar, mas deixe-me ler.
Passei-lhe a folha com as anotações, esclarecendo: olhe, em primeiro lugar essas anotações se dirigem a mim mesmo, tá?
Ele principiou a ler:
A nossa vida diária é repleta de lições que deveremos aprender para prosseguirmos em nosso caminho de aprendizagem que nos leva, gradativamente, à ampliação da capacidade de sermos felizes.
A felicidade, em nossas vidas, não é algo que possamos encontrar pronta para ser adquirida em lojas, farmácias, casas de diversões ou qualquer outro lugar material.
A felicidade é um estado psicológico e espiritual que precisamos construir, diariamente.
Para construirmos essa felicidade, necessitamos enfrentar permanentemente os desafios que se situam adiante de nós: carência de recursos financeiros, problemas na família, doenças, perda de emprego, morte e outros.
Desses problemas, alguns podem e devem ser resolvidos com a nossa ação consciente e previdente, outros não temos como eliminá-los de nossas vidas e, então, é necessário saber como suportá-los, como, por exemplo, uma doença incurável ou a morte.
Muitas vezes as questões enfrentadas por duas pessoas são iguais ou semelhantes, porque tão diferentes reações?
O fato ou os fatos podem ser os mesmos, contudo cada um repercute diferente em cada uma delas.
Para algumas pessoas perda significa perda mesmo: nulidade, anulação, desespero e revolta; para outras, perda significa: ganho, acréscimo, experiência válida para novas realizações.
Daí a importância e o significado de como nós, emocional, sentimental e espiritualmente reagimos diante desses fatos.
Ante os impactos emocionais produzidos pelos problemas, precisamos construir a segurança íntima que nos proporcionará a desejável serenidade.
Uma das condições para a construção da felicidade é esforçarmo-nos para desenvolver a paz, como fruto da compreensão e da ação assertiva.
Também será interessante observarmos que os nossos problemas não são apenas nossos, mas outras pessoas também passam ou já passaram por eles, como nossos familiares.
Para livrar-nos da ansiedade é indispensável entendermos que os nossos entes queridos têm os seus próprios caminhos e ajudar não é impor, exigir ou dominar.
Como vemos, a ampliação da nossa felicidade depende não só de nós mesmos no roteiro de nossas vidas, mas, também, de compreendermos a vida e a vivência daqueles que partilham o nosso existir.
Augusto terminou de ler, ficou algum tempo olhando para o papel.
Em seguida, disse:
- Me dê uma cópia. Não é fácil, mas vale a pena tentar seguir.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 10/02/2012, no Jornal Correio de Lins

domingo, 26 de novembro de 2017

Bênçãos e maldições

O ato de abençoar implica em desejar o bem de alguém.
Assim como a oração, o alcance da bênção depende de nosso envolvimento com ela, dos sentimentos que mobilizamos.
O pai que, displicentemente, abençoa o filho que vai dormir, sem desviar a atenção do programa de televisão, não vai além das palavras.
Já a mãe diligente, que leva a criança ao leito, conversa com ela, conta-lhe uma história e a beija carinhosamente, põe a própria alma ao abençoá-la, envolvendo-a em poderosas vibrações de amor, com salutar repercussão em seu sono.
Ao contrário da bênção, amaldiçoar é desejar o mal de alguém.
Que vajas bien, que te pise el tren.
O fato de desejarmos que uma pessoa seja atropelada por um trem, como sugere este chistoso ditado espanhol, não implicará, evidentemente, nesse funesto acontecimento. Não possuímos poderes para tanto, nem Deus o permitiria. Mas podemos perturbar nosso desafeto.
A maldição é um pensamento contundente, revestido de carga magnética deletéria, passível de provocar reações adversas no destinatário – nervosismo, tensão, irritabilidade, mal-estar…
Se, porém, o amaldiçoado é uma pessoa bem ajustada, moral ilibada, ideias positivas, sentimentos nobres, nada lhe acontecerá. Simplesmente não haverá receptividade para nossa vibração maldosa.
O mesmo ocorre em relação ao ato de abençoar. Os pais desejam muitas bênçãos para seus filhos. Que sigam caminhos retos; que sejam aprendizes aplicados; que se realizem profissionalmente; que cultivem moral elevado; que sejam felizes...
Ainda que se situem por poderosos estímulos, suas bênçãos pouco representarão se os filhos preferirem caminhos diferentes.
Nem por isso devem deixar de abençoá-los. Suas bênçãos inibirão os impulsos mais desajustados dos filhos, trabalharão suas consciências adormecidas e acabarão por despertar neles impulsos de renovação, quando a vida lhes impuser suas amargas lições.
Bênçãos e maldições são como bumerangues, aqueles brinquedos australianos, em forma de arco, que retornam às nossas mãos quando os atiramos.
Se amaldiçoarmos alguém, odientos, o mal que lhe desejamos voltará, invariavelmente, para nós, precipitando-nos em perturbações e desequilíbrios. Somos vitimados por nosso próprio veneno.
Em contrapartida, aquele que abençoa alimenta-se de bênçãos, neutralizando até mesmo vibrações negativas de eventuais desafetos da Terra ou do além.
Jesus conhecia como ninguém esses princípios. Por isso, antecipando que os discípulos enfrentariam muitas hostilidades na difusão do Evangelho, recomendava-lhes:
“Quando entrardes numa casa, dizei:
− A paz esteja neste lar.
Se, com efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, torne para vós outros a vossa paz."
Temos aqui preciosa orientação. Observando-a, ainda que, onde formos, as pessoas estejam pouco dispostas a entronizar a paz, ela não se ausentará de nosso coração.
Nem sempre os beneficiários de nossas iniciativas, quando cultuamos a vocação de servir, mostram-se reconhecidos.
Que isso jamais nos iniba. O ato de servir tem suas próprias compensações. Exercitando-o, a distribuir bênçãos de auxílio, habilitamo-nos às bênçãos de Deus.

Richard Simonetti

e-mail: richardsimonetti@uol.com.br

domingo, 19 de novembro de 2017

Nossos filhos

Certo dia, quando eu voltava do trabalho, já ao cair da noite, passava pelo calçadão quase deserto, quando vi uma adolescente com uma mochila nas costas, agasalho tipo jaqueta, como estas estudantes em dia de viagem. Estava a falar no telefone público, e pelo tom alto de sua voz, dava a entender que era interurbano. Então pude ouvir a seguinte frase: Cadê o pai? Cadê o pai? Esta frase tão comum que ouvimos quase que diariamente em nosso próprio lar, partindo daquela jovem, naquele momento em que provavelmente se encontrava longe de casa e talvez dependendo de uma orientação qualquer e às vezes até de recursos financeiros do pai para se conduzir dali em diante, levou-me a refletir sobre a importância da responsabilidade e influência dos pais na formação moral, intelectual e religiosa de seus filhos.
Sabemos das dificuldades e insegurança dos jovens e também da preocupação dos pais quando se tem que estudar e morar fora de casa, por exemplo, situação em que ficam sem aquele contato mais direto com a família, quando não se pode acompanhar mais de perto suas atividades no meio social em que passarão a conviver. Sabemos também, que cada filho é um espírito diferente, com uma rota diferente no caminho da evolução, com suas virtudes e seus pontos vulneráveis diferentes uns dos outros, com divergências no comportamento, nas necessidades afetivas, no grau de compreensão, no temperamento emocional, na inteligência, etc. Isso nos faz sentir a necessidade de olharmos para nossos filhos de maneira carinhosa, procurando identificar em cada um deles as suas necessidades, tanto na parte material como espiritual, e assim procurarmos orientá-los da maneira que acharmos a mais correta, e principalmente pelo exemplo que lhes passamos através de nossos procedimentos, nossas atitudes, nossas palavras ou nosso comportamento social.
Devemos enquanto são crianças plantar em seus corações a sementinha da fé religiosa, do amor ao próximo, alertá-los para a necessidade da prece, do amparo aos mais necessitados através dos variados caminhos da caridade, para que no futuro, quando já se sentirem donos de si mesmos, estas sementinhas possam germinar como no terreno fértil previamente preparado pelo agricultor. Só assim encontrarão a assistência de que precisam para manterem o equilíbrio em seus momentos de dificuldades tão frequentes em nosso dia-a-dia.
Os ensinamentos espíritas nos dizem que nos primeiros anos de vida de nossos filhos está a grande oportunidade que temos para edificar a plataforma na qual se sustentarão durante toda sua vida.
Ao chegar em casa, encontrei na sala, meu filho que assistia a um programa de esportes na televisão, e que me recebeu sorridente, dizendo: Olá paizão! Está com cara de preocupação ou de cansaço do trabalho? Então, sorrindo eu lhe respondi: Nada disso filho, na verdade, estou muito contente e agradecido a Deus, por ter vocês e o meu trabalho.
Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

domingo, 12 de novembro de 2017

Cenas da rua, vivências da vida

À porta de uma loja de eletrodomésticos, aguardava minha esposa que conversava com o vendedor sobre as condições de compra de um objeto que ela precisava.
Um adolescente, acompanhando os pais, que também faziam compra na loja, tomava refrigerante em um copo plástico, descartável.
Saboreou o líquido até as últimas gotas, depois se aproximou da porta e atirou o copo em direção à rua, onde, naquele momento, passavam veículos.
Próximo dele havia um cesto para coletar lixo.
Passados alguns dias, vou caminhando pela calçada. Alguns passos adiante seguem duas jovens, com o característico jaleco branco de quem trabalha na área da saúde.
As duas pararam. Uma delas abaixou-se pegou um copo plástico, vazio, com o característico símbolo de famosa empresa multinacional de refrigerantes, que estava jogado no chão.
Continuaram a caminhada e eu, seguindo, o meu rumo normal, atrás e observando...
Mais alguns quarteirões e divisaram um coletor público de lixo.
A que segurava o copo aproximou-se e depositou o entulho plástico no lugar adequado e seguiram alegremente conversando.
Este episódio, mentalmente, ligou-me com o outro. Aquele do jovem na loja.
No mesmo instante refleti: cenas da rua, vivências da vida.
De uns tempos a esta parte os princípios de educação e ecologia vêm sendo divulgados pela escola, pela televisão, por revistas e jornais.
É quase impossível que uma pessoa vivendo em um lar, frequentando uma escola, assistindo programas na televisão não saiba que não se deve atirar um copo plástico na rua, ainda mais em direção a veículos transitando pelo local.
É quase absoluta a certeza de que o jovem sabia que seu ato transgredia as normas de educação e de respeito ao meio ambiente.
Por algum motivo as formas de educação não estavam funcionando para o jovem.
Por outro lado, as jovens profissionais, que entraram em uma clínica de fisioterapia, onde, por certo, trabalhavam, “perderam” um momento para atender ao interesse da coletividade e procuraram sanar o ato de outro deseducado que havia lançado outro copo de plástico na via pública.
Eram jovens educadas e conscientes do respeito ecológico pelo planeta Terra, que se reflete sim no, aparente, simples ato de recolher um lixo plástico da rua.
Só para refletirmos nessa contaminação: copo plástico leva de 200 a 450 anos para se desintegrar; lata de alumínio: 100 a 500 anos; garrafa de plástico: mais de 500 anos, pilhas e baterias: 100 a 500 anos, com grave contaminação no solo e na água que ele contém.
Portanto, o amor ao próximo, o amor à vida, o amor ao planeta depende tanto de providências tão simples como a de destinar o lixo orgânico e inorgânico ao lugar certo quanto aos grandes atos de preservação ambiental desse organismo vivo que é a nossa casa planetária.
A Doutrina Espírita, expressa em O Livro dos Espíritos (1), em sua Terceira Parte – Das Leis Morais, nos capítulos: V – Da Lei da Conservação e VI – Da Lei da Destruição, conceitos sobre a necessidade de atos de preservação da vida e do planeta.
Destarte, as cenas de rua relatadas se projetam em vivências comportamentais para a conservação ou destruição da vida e do nosso admirável e maravilhoso planeta.
Vamos refletir:
Estamos atirando copos plásticos na rua ou estamos colhendo os jogados e depositando-os, com amor, nos recipientes de preservação da Vida?

Bibliografia:
1 – O Livro dos Espíritos, Allan Kardek, Ed. FEB.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 03/02/2012, no Jornal Correio de Lins

domingo, 5 de novembro de 2017

Desejável paixão

Richard Simonetti
O senhor Felício esteve num programa de televisão em que eram entrevistadas pessoas idosas, convidadas a falar sobre a velhice.
Tinha oitenta e cinco anos. Aparentava sessenta, espirituoso, bem disposto, dono de uma incrível jovialidade.
— Nunca me senti velho — dizia.
— E o corpo? — perguntou o entrevistador.
— Já não tem a mesma vitalidade; não raro, há grilos de saúde, o que é natural. Trata-se de uma máquina.
— Vai se desgastando…
— Exatamente, mas o motor está ótimo, nos dois sentidos: bombeia, incansável e eficientemente o sangue, levando o oxigênio a todas as províncias do corpo sem ratear, e me mantém permanentemente enamorado de encantadora donzela.
— O senhor, na sua idade, apaixonado por uma jovem?! — admirou-se o entrevistador.
— Sim, meu filho. Apaixonadíssimo!
— E podemos conhecer essa pessoa maravilhosa, que faz seu encanto?
— Claro, claro, mesmo porque todos devem fazer o mesmo, em favor de uma existência feliz.
Sorridente, o senhor Felício explicou:
— Sou apaixonado pela vida. Adoro viver. Intimamente sinto-me eterno jovem. Nunca experimentei o peso dos anos ou a angústia de envelhecer. Cada dia é uma aventura que aproveito integralmente.
— Qual a fórmula mágica para essa perene juventude emocional, essa esfuziante alegria? Nossos telespectadores vão adorar sua orientação.
— Elementar, meu filho. Toda manhã, ao fazer a barba, converso comigo mesmo ao espelho e afirmo: “Felício, você tem duas alternativas neste dia: ser feliz ou infeliz. A escolha é sua”.
— Escolhe ser feliz?
— Evidente! Seria um tolo se não o fizesse. Afinal, a opção é sempre nossa.
E ante o maravilhado entrevistador:
— Simples, não?
***
O Senhor Felício é dessas raras pessoas conscientes de que a felicidade não é uma estação na viagem da existência humana. Felicidade é uma maneira de viajar.
E não está subordinada à satisfação de nossos desejos, diante da Vida, mas ao desejo de descobrir o que ela espera de nós. A propósito desse tema tão caro a todos nós, alguns pensamentos interessantes:
Os homens que procuram a felicidade são como bêbedos que não conseguem encontrar a própria casa, mas sabem que tem uma. (Voltaire)
Dá-se com a felicidade o que se dá com os relógios: os menos complicados são os que enguiçam menos. (Chamfort)
Encher a hora – isso é que é a felicidade. (Emerson)
Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. (Érico Veríssimo)

Por último, o notável poema, Velho Tema, de Vicente de Carvalho, que nos oferece a mais perfeita explicação sobre a escassez de felicidade entre os homens:

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim; mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Richard Simonetti

e-mail: richardsimonetti@uol.com.br

domingo, 29 de outubro de 2017

O naufrágio

(Reflexão)
O barco naufragara sem que todos conseguissem apanhar suas bóias de salvamento.
Um cidadão que ficara sem ela estava a flutuar bem próximo de uma e com tranqüilidade esperava o momento oportuno para alcançá-la diante dos agitados movimentos de vai-e-vem das águas.
Sabia flutuar muito bem e aguardava na certeza de que a qualquer momento pudesse agarrá-la.
Com o balanço do mar a bóia se locomovia e ele também, mantendo sempre a mesma distância que o impossibilitava de pegá-la.
Os minutos se passaram, o cansaço já o abalava, e assim, após algum tempo, a bóia foi se distanciando, a margem que não longe se via...desaparecendo.
Alcançou ele a corrente marítima, que também levou para mais longe o instrumento que lhe dava esperanças, arrastando-o com violência para as profundezas depois de esgotadas suas energias físicas.
Outro náufrago, despejado pela embarcação nas mesmas condições, apavorado pela turbulência jamais vista por ele, debatia-se desesperado sem visualizar objeto algum em que pudesse se segurar e dar-lhe esperanças de salvamento.
Respirava fundo, toda vez que a água se afastava de suas narinas, e desprendendo esforço inusitado, começou a nadar com braçadas vigorosas superando as próprias condições físicas.
Depois de algum tempo, quase inconsciente, sentiu a seus pés a acariciante massagem da areia branca do leito do oceano. Afirmou-se, o andar titubeante, e quase sem forças alcançou a praia deserta, e lançou-se ao solo para merecido descanso.
Estabelecendo certa comparação entre o desejo de sobrevivência do naufrago e os anseios da alma, nos leva a meditar sobre a salvação tão almejada, que entendo como sendo a conquista de uma boa posição na escala evolutiva espiritual, e, as condições para alcançá-la.
O salva vidas representado pelos alertas de comportamento moral e religioso que nos aparece a todo instante, e que nos faz acreditar às vezes, que não é para nós, quando nos colocamos em posição de tranqüilidade e suposta sabedoria, pode fugir das nossas mãos em virtude da nossa passividade e inércia, nos arrastando para o desconforto e a desesperança.
O vigor que nos sustenta, que nos dá chance de vitória, e que independe de nossa força física, e sim do nosso preparo interior, composto de:  responsabilidade, bom caráter, sentimento de solidariedade, equilíbrio, fé, capacidade de perdoar, e disposição para a ação no bem; precisa ser ativado, ou seja: exercitado, para nos impulsionar em direção ao objetivo que nos convém alcançar.
A tábua de salvação chegará até nós pelos nossos próprios esforços em conquistar as virtudes necessárias para merecê-la, e nunca pelo bel prazer das ondas de influências bajuladoras e promessas nas quais muitas vezes flutuamos no mar da vida.

Nelson Nascimento

e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

domingo, 22 de outubro de 2017

A indignação de um bom

Sem dúvida, quando vemos os atos de improbidade administrativas nos diferentes órgãos governamentais, sentimos a indignação e mesmo a revolta.
Encontramos na questão nº 930 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, a indagação:
“Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?”
E os Mentores Espirituais responderam:
“ – Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão”.
No relato, abaixo, temos o admirável exemplo de um “bom”, juntamente com o seu público, indignando-se e agindo contra os maus.
Giuseppe Fortunino Francesco Verd, foi compositor de óperas do período romântico italiano. Considerado, então, o maior compositor nacionalista da Itália.
Foi um dos compositores mais influentes do século XIX. Suas obras são executadas com frequência em Casas de Ópera em todo o mundo e, transcendendo os limites do gênero, alguns de seus temas estão, há muito, enraizados na cultura popular.
Entre esses, Va, pensiero, o coro dos escravos hebreus, da ópera Nabucco.
Nabucco é uma ópera em quatro atos, escrita em 1842. Conta a história do rei Nabucodonosor da Babilônia.
Por ter sido escrita durante a ocupação austríaca no norte da Itália, dadas as tantas analogias que apresenta, suscitou o sentimento nacionalista italiano.
O coro dos escravos hebreus, no terceiro ato da ópera, tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano da época.
No mês de março do ano em curso (2011), no teatro da Ópera de Roma, esse coro levou os cantores e músicos à muita emoção. E o público presente, ao delírio, numa grande demonstração de fé patriótica.
O maestro Riccardo Muti acabara de reger o célebre coro dos escravos. Va pensiero. O público aplaudia incessantemente e bradava bis!
O maestro, então, se volta para a plateia e recorda o significado patriótico do Va pensiero que, além de sua intrínseca beleza, que é inexcedível, tem enorme apelo emocional, até hoje, entre os italianos.
Riccardo, pede ao público presente que o cante agora, com a orquestra e o coro do teatro, como manifestação de protesto patriótico contra a ameaça de morte contida nos planejados cortes do orçamento da cultura.
Ele rege o público, enquanto a orquestra e o coro se irmanam na execução do hino, cujos versos podemos assim traduzir:
Voa, pensamento, com tuas asas douradas. Voa, pousa nas encostas e no topo das colinas, onde perfumam mornas e macias as brisas doces do solo natal!
Cumprimenta as margens do rio Jordão, as torres derrubadas de Jerusalém...
Oh, minha pátria tão bela e perdida! Oh, lembrança tão cara e fatal!
Harpa dourada dos grandes poetas, porque agora estás muda?
Reacende as memórias no nosso peito, fala-nos do bom tempo que foi!
Traduz em música o nosso sofrimento, deixa-te inspirar pelo Senhor para que nossa dor se torne virtude!
***
As câmeras passeiam pela plateia, mostrando a emoção, a unção. Quem sabia a letra, cantou. Quem não sabia, acompanhou a melodia.
Foi uma verdadeira prece.
Prece ao Senhor, rogativa às autoridades. Um exemplo de patriotismo.
Um maestro que clama, chora e concita o povo a bradar pela manutenção do bom, do belo, da cultura.
Alguém que, consciente da sua cidadania, vai além do seu dever como artista.
Serve-se do palco, da plateia, para esclarecer, para despertar consciências, para lutar pelo ideal que defende.
Que se repitam no mundo, em todas as nações, tal grandioso exemplo para que não se percam as raízes, para que se preserve a cultura, a arte, o belo.

Redação do Momento Espírita, com base nas imagens do vídeo do link http//.youtu.be/g_gmto6jnrs (recebido pela internet)

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).


Obs.: Artigo publicado em 27/01/2012, no Jornal Correio de Lins