Sem dúvida, quando vemos os atos de improbidade
administrativas nos diferentes órgãos governamentais, sentimos a indignação e
mesmo a revolta.
Encontramos na questão nº 930 de O Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, a indagação:
“Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus
sobrepuja a dos bons?”
E os Mentores Espirituais responderam:
“ – Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e
audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão”.
No relato, abaixo, temos o admirável exemplo de um
“bom”, juntamente com o seu público, indignando-se e agindo contra os maus.
Giuseppe Fortunino Francesco Verd, foi compositor de
óperas do período romântico italiano. Considerado, então, o maior compositor
nacionalista da Itália.
Foi um dos compositores mais influentes do século XIX.
Suas obras são executadas com frequência em Casas de Ópera em todo o mundo e,
transcendendo os limites do gênero, alguns de seus temas estão, há muito,
enraizados na cultura popular.
Entre esses, Va, pensiero, o coro dos escravos hebreus,
da ópera Nabucco.
Nabucco é uma ópera em quatro atos, escrita em 1842.
Conta a história do rei Nabucodonosor da Babilônia.
Por ter sido escrita durante a ocupação austríaca no
norte da Itália, dadas as tantas analogias que apresenta, suscitou o sentimento
nacionalista italiano.
O coro dos escravos hebreus, no terceiro ato da ópera,
tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano da época.
No mês de março do ano em curso (2011), no teatro da
Ópera de Roma, esse coro levou os cantores e músicos à muita emoção. E o
público presente, ao delírio, numa grande demonstração de fé patriótica.
O maestro Riccardo Muti acabara de reger o célebre coro
dos escravos. Va pensiero. O público aplaudia incessantemente e bradava bis!
O maestro, então, se volta para a plateia e recorda o
significado patriótico do Va pensiero que, além de sua intrínseca beleza, que é
inexcedível, tem enorme apelo emocional, até hoje, entre os italianos.
Riccardo, pede ao público presente que o cante agora,
com a orquestra e o coro do teatro, como manifestação de protesto patriótico
contra a ameaça de morte contida nos planejados cortes do orçamento da cultura.
Ele rege o público, enquanto a orquestra e o coro se
irmanam na execução do hino, cujos versos podemos assim traduzir:
Voa, pensamento,
com tuas asas douradas. Voa, pousa nas encostas e no topo das colinas, onde
perfumam mornas e macias as brisas doces do solo natal!
Cumprimenta as
margens do rio Jordão, as torres derrubadas de Jerusalém...
Oh, minha pátria
tão bela e perdida! Oh, lembrança tão cara e fatal!
Harpa dourada dos
grandes poetas, porque agora estás muda?
Reacende as
memórias no nosso peito, fala-nos do bom tempo que foi!
Traduz em música o
nosso sofrimento, deixa-te inspirar pelo Senhor para que nossa dor se torne
virtude!
***
As câmeras passeiam pela plateia, mostrando a emoção, a
unção. Quem sabia a letra, cantou. Quem não sabia, acompanhou a melodia.
Foi uma verdadeira prece.
Prece ao Senhor, rogativa às autoridades. Um exemplo de
patriotismo.
Um maestro que clama, chora e concita o povo a bradar
pela manutenção do bom, do belo, da cultura.
Alguém que, consciente da sua cidadania, vai além do
seu dever como artista.
Serve-se do palco, da plateia, para esclarecer, para
despertar consciências, para lutar pelo ideal que defende.
Que se repitam no mundo, em todas as nações, tal
grandioso exemplo para que não se percam as raízes, para que se preserve a
cultura, a arte, o belo.
Redação do Momento Espírita, com base nas imagens do
vídeo do link http//.youtu.be/g_gmto6jnrs (recebido pela internet)
Aylton Paiva é estudioso
da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).
Obs.: Artigo publicado
em 27/01/2012, no Jornal Correio de Lins
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