Em nosso grupo de estudos espirituais, comentava-se
sobre a dificuldade da convivência, a começar com os próprios familiares.
Disse-lhes, então: li uma página muito interessante
escrita pelo espírita e psicólogo Adenauer Novaes sobre o assunto e estou com o
livro aqui, vamos dar uma lida?
- Será interessante, adiantou-se Aparecida.
- Adenauer comenta: “A vida a dois, por mais amor que
exista, é sempre o desafio no qual a união harmônica deveria prevalecer no
final. O encontro inicial se dá por vários fatores que fazem com que uma pessoa
se relacione com outra.
Para a manutenção da relação devem concorrer os
seguintes requisitos: identidade de propósitos, amizade e atração sexual. Sem
eles a relação corre o risco de se tornar instável. Quando um deles falta, o
casal deve tomar consciência disso e buscar juntos alternativas de solução.
Psicologicamente uma relação é a busca por um
complemento que se realiza de forma arquetípica. São opostos que tentam se
reconciliar no encontro amoroso, e assim o fazem para que a necessária
coniuctionis ocorra, isto é, para que cada um integre em si o que projeta no
outro e o que com ele apreende.
Cada um busca seu complemento, por esse motivo não deve
esperar que pensem da mesma maneira ou que gostem das mesmas coisas. Querer a
igualdade entre os dois é anular um deles.
Não se deve pensar que, por serem diferentes, não possa
a relação dar certo ou ser bem conduzida.
Um outro na vida de alguém deve levá-lo ao encontro
consigo mesmo e à transformação de que necessita na vida. A união a dois deve
levar ambos ao autoconhecimento, à descoberta de si mesmo, à transformação na
vida social e à iluminação do Espírito”. (1)
Mais adiante, comentando a convivência no lar, ele
prossegue:
“Podemos sonhar com um lar no qual gostaríamos de
viver, com características ideais e que nos permitisse viver em paz e feliz.
Porém, esse lar é sempre fruto da construção pessoal de cada um. Não é algo que
recebemos gratuitamente, mas que construímos ao longo das vidas sucessivas do
espírito que somos.
Pode-se pensar num lar onde haja discussões e
preocupações, visto que são contingências naturais da vida em grupo. A vida,
mesmo num ambiente de harmonia, exige que não se perca de vista o nível de
evolução de cada pessoa e suas dificuldades íntimas.
Construamos um lar como um ambiente de paz e harmonia,
mas constituído por pessoas que possam, momentaneamente, apresentar algum tipo
de insatisfação ou angústia. Afinal de contas a Vida oferece desafios
constantes, os quais nos cabe vencer e com eles aprender”. (2)
Não são interessantes as considerações que ele
entretece sobre a compreensão e a divergência, o conflito e a paz; a busca da
igualdade e a diferença?
- De fato, o entendimento e a paz nunca serão frutos da
submissão e da mesmice, ponderou Claudio.
- Sim! A liberdade de pensamento é um direito
consagrado nas legislações avançadas e em O Livro dos Espíritos; nele
encontramos a seguinte colocação, na questão nº 833: “No pensamento goza o
homem de ilimitada liberdade, pois que não há como pôr-lhe peias. Pode-se-lhe
deter o vôo, porém, não aniquilá-lo” (3)
Interpôs Margarida:
- Então como encontrar o equilíbrio necessário?
- Nas insatisfações e conflitos vamos procurar
exercitar os princípios da Justiça: reconhecer os direitos do outro e
claramente delimitar os nossos.
- Belo desafio! Foi o comentário do grupo.
- Vamos enfrentá-lo?
Desafiou Nilson
Bibliografia:
(1) e (2) - O Evangelho
e a Família, Adenauer Novaes, Editora Fundação Lar Harmonia, páginas 57 e 58;
(3) – O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Editora FEB.
Aylton Paiva é estudioso
da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).
Obs.: Artigo publicado em 02/03/2012, no Jornal Correio de Lins