quinta-feira, 29 de março de 2018

Pensar e existir e pensar


O conhecido filósofo francês Descartes propôs, na base de toda sua digressão filosófica, o que ficou conhecido como cogito: “penso, logo existo”. De fato não dá para conceber o homem sem considerar essa premissa. O pensar é um atributo construído ao longo da evolução do homem no planeta. A medicina denomina de vida vegetativa, a incapacidade de algumas pessoas no uso desse recurso. Contudo, mesmo sendo atributo do indivíduo o pensar tem uma construção social. Se de um lado, o pensar é atributo do indivíduo em termos de herança genética, o conteúdo do pensar é socialmente construído. Esse segundo aspecto é o que se chama de ideologia. Por exemplo, aceitar ou negar a ideia de um Criador é ideologia. Faz parte também das diferentes ideologias os atributos dados a esse Criador. O que se pretende dizer é que o conteúdo do pensar, o que e sobre o que se pensa é socialmente derivado.

Nosso primeiro grupo social é a família nuclear, formada por pais, filhos e avós, depois a família expandida, que inclui os tios e primos. O nosso segundo grupo social é a vizinhança e a escola. Esses grupos são chamados de “nichos ecológicos” e têm uma enorme influencia sobre nosso desenvolvimento e sobre o que pensamos. Também, nossa adesão a uma filosofia ou mesmo a uma religião depende e, muito, de nossa ideologia. Nesse sentido, muita gente mantém a tradição religiosa de sua família e, ultrapassar esse controle exercido pode ser difícil. Entretanto, há os que conseguem superar a ideologia familiar rompendo ou superando tal controle. Na maioria das vezes isso ocorre quando a pessoa se filia a outros grupos que os apoiam em suas decisões.

Em um grupo social, mesmo bastante homogêneo não significa a ausência de conflitos ideológicos e isso quando aceito dentro da convivência civilizada e saudável pode ser bastante positivo para todos. Tais conflitos superam o marasmo, a mesmice e produzem um maior dinamismo no conjunto, nos diferentes subgrupos e em cada um isoladamente.

O que pensamos, ou seja, o conteúdo do nosso pensamento revela quem são nossos companheiros ou as afinidades que temos, sejam estes encarnados ou desencarnados. Falando nisso, caro leitor, o que nós, eu e você temos pensado ultimamente?

Almir Del Prette/São Carlos, SEOB

terça-feira, 27 de março de 2018

01 - Espiritismo e Esperanto

ĈE LA ELLITIĜO
           Danku Dion pro la beno de la vivo, en la mateno.
           Se vi ne havas la kutimon preĝi, esprimu serenajn kaj optismajn pensojn, dum kelkaj momentoj, antaŭ ol repreni viaj proprajn laborojn.
           Ellitiĝu trankvile.
           Se vi devas veki iun, uzu bonkoreco kaj  ĝentilecon, rekonante, ke kriado kaj malbongustaj ŝercôj neniam iun helpas.
           Tenu al ĉio kaj al ĉiuj personoj la dispozicion kunlabori por la bono.
           Antau ol foriri por la plenumado de viaj taskoj, rememoru, ke  estas necese beni la vivon, por ke la vivo nin benu.
( Verda Signalo, ĉapitro 1, Sociedade Espírita Valdomiro Lorenz, RJ 1ª ed, Spirito Andreo Ludoviko, psikografio de Francisco Cândido Xavier, traduko Allan Kardec Afonso Costa)

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AO LEVANTAR-SE
           Agradeça a Deus a bênção da vida, pela manhã.
           Se você não tem o hábito de orar, formule pensamentos de serenidade e otimismo por alguns momentos, antes de retornar as próprias atividades.
           Levante-se com calma
           Se deve acordar alguém, use bondade e gentileza, reconhecendo que gritaria ou brincadeira de maus gosto não auxiliam em tempo algum.
           Guarde para com tudo e para com todos a disposição de cooperar para o bem.
           Antes de sair para a execução de suas tarefas, lembre-se de que é preciso abençoar a vida para que a vida nos abençoe.
           (Sinal Verde, cap. 1, Comunhão  Espírita Cristã,62ª Reimpressão da  Edição Original, Espírito André Luiz, psicografia  de Francisco Cândido Xavier.
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           O idioma internacional Esperanto foi criado por Lazaro Luiz Zamenhof, publicado no livro: Língua Internacional – Dr. Esperanto, em 26 de julho de 1887.
           O Esperanto tem apenas 16 regras gramaticais, sem exceção.
           O Esperanto pode ser estudado pela internet: Portal Lernu – http://lernu.net.pt
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           Aylton Paiva – Diretor do Departamento:  La Espero, da Casa dos Espíritas, em Lins-SP e
                       Presidente da USE Intermunicipal de Lins.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Formas de adoração a Deus


“Deus tem preferência pelos que o adoram dessa ou daquela maneira?
- Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes”. Questão nº 654 de O Livro dos Espíritos).
A ligação da criatura com o Criador, com a interpretação das religiões, ao longo do tempo, sempre refletiram as formas de pensar, sentir e agir dos dirigentes dessas religiões.
Assim, nelas constatamos normas que impões ao adepto: o medo, o temor, a submissão absoluta; o sentimento de povo escolhido, de grupos eleitos. Outras refletem o amor, a solidariedade e a fraternidade. E entre elas há uma gradação grande de exteriorização desses sentimentos, de forma negativa ou positiva.
De forma geral, para agradar o deus apresentado por essas religiões autoritárias, é necessário louvar, admirar, temer, ser submisso. E ele só salva os profitentes que participam daquela organização religiosa especifica, daquele grupo de fieis ou pertencentes ao seu povo eleito.
Claro que são projeções emocionais e comportamentais dos dirigentes, líderes, condutores dessas religiões atribuídas a Deus.
E a forma, mais ou menos rigorosa, de conduzir os adeptos, por parte das classes sacerdotais e das autoridades religiosas, têm variado através do tempo, das culturas e de maior ou menor avanço no atendimento aos direitos humanos nas legislações dos países onde essas religiões estão inseridas.
Segundo a Doutrina Espírita para adorar a Deus não é necessário atender a formalismos exteriores ou pertencer a essa ou aquela religião.
Na questão acima citada fica muito claro o fundamento da adoração a Deus: “Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal”.
Para se fazer o bem e evitar o mal é necessário que o ser humano seja participante, como cidadão, da sociedade em que vive, através de ações que preservem os próprios direitos naturais, como também, dentro de suas possibilidades, defenda os direitos naturais do seu semelhante.
Claro que nada vale a adoração exterior manifesta em rituais e posturas falsas, se o comportamento da pessoa motiva-se pelo egoísmo, orgulho, vaidade e prepotência.
Para fazer o bem e evitar o mal é necessário procurar extinguir o orgulho, a inveja, o egoísmo, a vaidade e a prepotência, não só em si mesmo, como também das instituições e grupos sociais.
Esse conceito de adoração leva não só à auto-educação da pessoa, como à reforma da sociedade em seus padrões de egoísmo e orgulho, em nome dos quais se justificam as desigualdades e as injustiças.
Há religiões que se constituem em instrumentos dos poderosos do mundo para a manipulação das massas, de conformidade com seus interesses pessoais ou dos grupos a que pertencem.
A submissão é de suma importância para tais religiões e o maior “pecado” é a desobediência.
Esse posicionamento de submissão cria no homem a dependência total à autoridade impedindo-o, consequentemente, de, por seu livre arbítrio, exercitar sua capacidade de amar e raciocinar.
Destarte, ser religioso significa, principalmente, entender a si mesmo e ao seu semelhante, amando-o e amando-se (“Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus), sempre procurando fazer o bem e evitar o mal.
Segundo o Espiritismo, o valor espiritual de uma religião, filosofia ou seita, está em promover o crescimento, a força, a liberdade para aquelas pessoas que a seguem ou professam.
Por isso, o conceito espírita de adoração infunde um profundo respeito pela Vida, uma permanente indagação sobre o universo e o homem, um intrínseco amor pelo semelhante. Estimula sempre o aperfeiçoamento e o progresso da pessoa e da sociedade, através da solidariedade.

Bibliografia:
- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Terceira Parte – Das leis Morais - Editora FEB.
- O Espiritismo e a Política para a Nova Sociedade, Aylton Paiva – Ed. Casa dos Espíritas de Lins.

Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).

Obs.: Artigo publicado em 09/03/2012, no Jornal Correio de Lins

terça-feira, 13 de março de 2018

A penumbra da mente


Reflexão)
Todos nós sabemos que penumbra é a sombra incompleta provocada pela diminuição gradual da luz, ou meia luz, que quando projetada em determinados ambientes, como boates, salões de bailes, cinemas, e até mesmo no jantar a dois, sem dúvida tem proporcionado a muitas criaturas prazeres inesquecíveis.
Símbolo do romantismo, do amor ardente, das boemias, tais ambientes previamente preparados, têm sido cantados em prosa e versos pelos amantes dos devaneios noturnos, e até por aqueles que curtem a chamada “dor de cotovelos”, levando alegria e entretenimento a muitos.
A penumbra também se dá, com reflexos diferentes, no exterior dos ambientes, quando o véu negro da noite é retraído pelas fracas lâmpadas da iluminação pública, favorecendo a ação de marginais e trazendo insegurança, desconforto e preocupação aos transeuntes.
A “Simbólica” penumbra da mente é muito mais preocupante, porque trata-se da obscuridade que invade a trincheira privativa do pensamento, exigindo cuidados para a proteção da integridade individual: é o pensamento negativo, persistente, malicioso, que chega de leve, pouco a pouco, corrompendo as boas ideias, o bom entendimento, semeando a desesperança, o desânimo a incredulidade, desvalorizando a autoestima, comprometendo a boa reputação do indivíduo, e que, em muitos casos pode-se considerar como sendo abordagem espiritual obsessiva (sem generalizar).
O pensamento quando não vigiado positivamente leva o cérebro a canalizar seduções negativas induzindo o ser humano ao exercício de ações e comportamentos inconvenientes, e a arquitetar plano nocivo a si próprio e à sociedade. São as idéias fixas em procedimentos enganosos e prejudiciais que leva o indivíduo à ruína moral ou física. O pensamento negativo é, portanto, o lixo que precisa ser reciclado para não contaminar a alma.
É preciso proteger e utilizar bem, o que se tem de mais precioso: a capacidade de pensar, porque sabemos que o pensamento é o comandante das ações e das decisões tomadas pelo livre arbítrio, e através das ações boas ou más, é que se encontra a paz, ou, os dissabores da vida. No propósito de melhorar o ser humano, a doutrina espírita nos alerta para a necessidade de “orar e vigiar” para mantermos sempre as boas companhias espirituais que nos ajudarão a superar os percalços da vida e a mantermos o equilíbrio nos momentos de angustias e de tentações.
Sempre é tempo de acender a luz do sentimento puro, da honestidade, da razão, da responsabilidade, da solidariedade, que proporcionam a iluminação interior, afastando a penumbra negativista e devastadora.

Nelson Nascimento
e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br

sábado, 3 de março de 2018

Toda uma biblioteca

Empirismo, como sabe o prezado leitor, é o princípio segundo o qual todo conhecimento provém da experiência.
Um político norte-americano discursava para uma comunidade indígena, fazendo promessas de campanha relacionadas com os benefícios que prestaria aos índios se fosse eleito. Durante sua fala e principalmente ao final, os índios gritavam em uníssono: oia, oia!.
Satisfeito com tal receptividade, o político caminhava distraído pelo campo em direção ao seu automóvel, quando, inadvertidamente, pisou sobre um montículo de estrume, o cocô de boi.
O assessor indígena logo advertiu:
Cuidado com a oia!
Pois é, leitor amigo, o político literalmente aprendeu pela própria experiência que oia não era exatamente uma saudação.
Isso é empirismo.
John Locke (1632-1704), filósofo inglês, sistematizou essa ideia, situando a nossa mente como uma tábula rasa, um estado de vazio completo, ao nascermos. Seria uma página em branco, que iríamos preenchendo durante a existência.
Duas etapas seriam observadas: A sensação, colhida por intermédio dos sentidos, portas de contato com a realidade exterior e a reflexão, que sistematiza o resultado das sensações. Não haveria, por isso, tendências ou ideias inatas. Seria tudo fruto da experiência e das pressões do ambiente.
Curiosamente, o próprio Locke era evidente negação de sua teoria. Homem brilhante, destacou-se como professor, médico, ensaísta, cientista, filósofo, religioso, político… Foi conselheiro de um lorde inglês, tutor de seus filhos e médico de toda a família.
Antes mesmo que recebesse diploma de médico, graças a seus conhecimentos teóricos, dispôs-se a efetuar o parto de uma das filhas de seu patrão e, em seguida operou o avô da jovem, extraindo um tumor de seu peito, em delicada cirurgia.
Raro exemplar de político honesto, ajudou a redigir uma constituição para colônias inglesas, destacando um programa de tolerância política, social e religiosa. Colaborou no desenvolvimento das indústrias na Inglaterra e foi pioneiro no princípio de participação dos operários nos lucros das empresas.
Batalhou, no campo das ideias, em favor da imprensa livre, considerando-a fundamental para evitarem-se regimes ditatoriais e monarcas despóticos. Incansável na defesa da liberdade de consciência, admitia que todas as religiões têm pontos básicos em comum e que não é razoável haver hostilidade entre os religiosos.
E era um homem de . O fato de Locke crer em Deus é algo inusitado, porquanto o empirismo é incompatível com a experiência religiosa. Não podemos ter um contato com o Criador a partir dos sentidos físicos.
Tão amplos eram seus conhecimentos, tão brilhante a sua erudição, tão grande a sua competência, em variados setores de atividade, que nãocomo conter tudo isso nos acanhados limites de uma única existência. Locke foi um Espírito milenar em trânsito pela carne, trazendo farta bagagem de vivências anteriores.
E embora adepto do empirismo na abordagem do Mundo, privilegiava, como todo Espírito superior, a sensibilidade, o sentimento elevado, no trato com os problemas humanos e o semelhante. Por isso, dizia bem humorado: O homem que vive de acordo com a razão tem o coração de uma máquina de costura.
Nos últimos tempos, prestes a desencarnar, Locke chamou os amigos e disse-lhes que podiam se alegrar por ele. Finalmente iria encontrar o caminho para a verdade infalível, além de todas as dúvidas humanas.
Como filósofo e como religioso, que admitia a existência e sobrevivência da alma humana, faltou-lhe o conhecimento fundamental – a reencarnação.
Saberia, então, que ao nascer não trouxe uma página em branco, como supunha, mas toda uma biblioteca contida em seus registros espirituais, que fizeram dele uma das mais destacadas personalidades do século XVII.

Richard Simonetti
e-mail: richardsimonetti@uol.com.br