Aylton Paiva |
Quando se fala no poder da fé, para os cristãos, é
natural lembrar-se do episódio relatado pelo evangelista Mateus, no capítulo
18, versículos 14 a 30, nos quais ele descreve que estando Jesus no meio do
povo, surgiu um pai desesperado pedindo-lhe para curar o seu filho.
Dizia ele:
- Senhor tem piedade de meu filho que é louco, e ele
cai, muitas vezes, no fogo e, muitas vezes, na água.
Apresentei-o aos teus discípulos, contudo eles não
puderam curá-lo.
Jesus adverte, então, os discípulos pela falta de fé.
Em seguida, aproximando-se do jovem amoroso e
energicamente fala com o espírito mau (daimon = demônio, em grego, significa
espírito, que pode ser bom ou mau) admoestando-o para que cessasse a sua
influência negativa sobre o rapaz.
No mesmo instante ele retoma a lucidez.
Depois, em particular, os discípulos interrogam Jesus
sobre o porquê de eles não terem conseguido afastar o espírito perturbador.
Jesus esclarece que eles deveriam ter a fé do tamanho
de um grão de mostarda.
A seguir incita-os dizendo que se o tivessem diriam à
montanha: transporta-te daí para ali e ela se transportaria.
Arremata, complementando: - E nada vos seria
impossível.
Após o ato de amor da cura do moço, Jesus, como sempre
fazia, aproveitando a experiência do momento esclarece sobre a importância da
fé para se atingir resultados.
Claro que, para a circunstância, ele usa a figura
pedagógica do grão de mostarda e a fé que, não só os discípulos precisavam ter,
como, também, toda pessoa para realizar os seus objetivos.
Se naquela circunstância de tempo e lugar não era
possível fazer uma montanha mudar de local, com o tempo, o ser humano seria
capaz dessa proeza, como vemos hoje.
Na construção de rodovias e grandes aterros, enormes
tratores, com a fé dos seus inventores e dos seus operadores, transportam a
terra das montanhas “daqui para ali” e surgem as rodovias planas, ou quase; bem
como enormes aterros onde antes havia a erosão.
Fé é, pois, confiança, determinação.
Fazendo interpretação dessa narrativa sobre Jesus,
Allan Kardec comenta:
“No sentido próprio, é certo que a confiança nas suas
próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não
consegue fazer quem duvida de si”. (1)
Na sequência de sua interpretação, assim analisa:
“Aqui, porém, unicamente no sentido moral se devem
entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as
resistências, a má vontade, em suma com que se depara da parte dos homens,
ainda quando se trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o
interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas
são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso
da humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que
fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes”.
Mas adiante acrescenta:
“A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a
paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e
na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado.”
Portanto, em todas as nossas realizações para o bem
próprio e dos outros necessitamos desse sentimento importantíssimo que é a fé
ou a confiança.
Mahatma Gandhi teve fé e libertou a Índia do jugo
inglês, sem derramar sangue.
Martin Luther King teve fé e libertou os negros
norte-americanos do preconceito dos brancos norte-americanos.
Nelson Mandela teve fé e acabou com a apartheid que
segregava os negros sul-africanos.
Jesus teve fé e legou à humanidade o sábio tratado
sobre a vivência e a convivência no Amor, na Justiça e na Solidariedade.
Saibamos ter e usar a nossa fé na melhoria de nossas
vidas e por um mundo melhor.
Bibliografia:
1 - O Evangelho Segundo
o Espiritismo, cap. 19.
Aylton Paiva é estudioso
da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com).
Obs.: Artigo publicado
em 04/11/2011, no Jornal Correio de Lins
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