(Reflexão)
O meu estado d’alma era de muita paz. Eu estava
completamente relaxado e absorto na poltrona aconchegante do meu lar.
Vaguei em pensamentos por campinas verdejantes, por
cascatas e rios com peixinhos coloridos, por florestas e mares sem fim.
Na afinidade de meus pensamentos, fui encontrá-lo em
uma relva às margens de um lago azul, de águas cristalinas. Seu semblante
deixava transparecer a serenidade e o amor.
De repente fui envolvido por uma estranha sensação, o
peito oprimido por angústia desconhecida e um forte sentimento de revolta. Senti-me
escravo! Eu... Escravo?
A resposta intuitiva e imediata daquele desconhecido
veio de forma poética:
Vieste de outros
tempos
Sem lar, comida ou
leitura
Mas ensinaste a
bondade
A milhões de criaturas.
A terra não te pertence
Só tens direito a
teu pão,
Que por intuição
Divina
Deste metade ao seu
irmão
Teus ombros a tudo resistem:
Trabalho, sol e
chicote
No peito a chama do
amor
Que te eleva e te conforta.
Na vida, caminhas errante
Pisando a relva
orvalhada
À espera que uma
porta
Te abra junto da estrada.
Teu cantar se ouve ao longe
Esqueces pesada cruz
És filho da terra
bruta
Teu suor reflete a
luz
Dignidade e nudez
Foi a herança dos
teus
Tens influência
marcante
No mundo que te
esqueceu
Despertei-me serenamente, e retornei à
realidade. Pensativo... Lembrei-me dos ensinamentos contidos no Livro dos
Espíritos (Q. 829) que diz que toda sujeição absoluta de um homem a outro homem
é contraria a lei de Deus, e que a escravidão é um abuso da força e
desaparecerá com o progresso, como pouco a pouco desaparecerão todos os abusos.
Levantei-me da poltrona devagarinho... E fui tomar meu
banho.
Nelson Nascimento
e-mail: nelson.nascimento1@yahoo.com.br
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