Justificava-se a preocupação de Adelina. O mal
era grave. O outro olho também corria risco.
— Acalme-se,
minha filha. Vamos tratar dele espiritualmente, a par do tratamento médico.
Receberá passes
magnéticos, uma vez por semana. Mas o
menino deverá assumir um compromisso...
— O
que o senhor mandar, pai. Nenhum sacrifício será demais para lhe salvar a visão.
— Quero
que compareça a todas as reuniões de nosso Centro, o que equivale dizer que ele
virá sete noites por semana, com disposição para ouvir atentamente
os expositores.
Adelina regressou exultante ao lar. Conhecia a
força daquele bondoso Espírito. Já considerava o filho curado. Não atentou,
porém, à dificuldade que se evidenciou ao lhe transmitir a recomendação.
– Diariamente? Até aos domingos?!
– Sim, meu
querido.
–
Mas, mamãe, a senhora sabe que nunca frequentei o Centro, embora goste de ler
sobre Espiritismo. Assistir às reuniões sete noites por semana é
impensável!
–
Concordo que não é uma ideia atraente para você. No entanto, é essa a
orientação de Pai Amâncio...
– Nem parece "pai"... Isto é coisa de "padrasto"!
–Tudo bem, filho. O olho é seu...
Embora a ideia não o agradasse, Rick não tardou
em concordar. Em favor de nossa iniciação espiritual, os problemas físicos são mais
eloquentes que mil discursos.
Com a fidelidade do náufrago que se agarra a
uma tábua de salvação, compareceu durante meses às sessões públicas,
religiosamente sete noites por semana.
Em princípio, ia contrariado. Mas logo começou
a se interessar pelas preleções. Gostou. Retirou livros na
biblioteca. Aprofundou-se no estudo da Doutrina Espírita. E logo pediu serviço...
Adelina
exultava. Na primeira oportunidade conversou com o guia:
– Pai Amâncio, quero agradecer-lhe. Sua orientação foi preciosa.
– O menino
sarou do olho?
–
Está bem melhor, mas isso é secundário. O importante é que ele abraçou o serviço no
Centro com
muito amor!
— Eu sei, minha filha. Tenho acompanhado seus progressos. Saiba
que ele tem compromisso com esta casa, assumido no plano espiritual, antes do
renascimento.
— Entendo agora sua
exigência que, em principio, causou-me
estranheza. Nunca o vira proceder
assim...
— É
que se tratava de um caso especial. Nosso Rick estava maduro para a tarefa.
Faltava apenas um estímulo. Eu sabia que daria certo.
— E
o senhor acredita que permanecerá firme?
— Esperamos
que sim, em seu próprio benefício. O Espiritismo está em seu sangue. Não
se sentirá
feliz de outra forma.
* * *
Todos assumimos determinados deveres ao reencarnar.
As próprias circunstâncias da vida terrestre nos
induzem ao cumprimento daqueles relacionados com família, profissão, vida social.
Os mais difíceis dizem respeito aos ideais de
espiritualidade, nos domínios da religião, porquanto estes
dependem, essencialmente, de nossa disposição em cogitar deles. Por isso, não
raro, somente despertamos para esse esforço com as clarinadas
do sofrimento.
Richard
Simonetti
e-mail:
richardsimonetti@uol.com.br
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